sexta-feira, 21 de junho de 2013

REVOLTA SEM NOME


Para os manifestantes dos protestos de junho de 2013.



...Ora, direis, ouvir estrelas
...Do lábaro que ostentas estrelado...
...Verde que te quero verde
...E diga ao verde-louro desta flâmula
que aqui viemos como se quiséssemos
das barcas do Estige gritar, matar o barqueiro,
iniciar o motim do navio negreiro
e voltar, a nado, a remo,
para derrubar Hades, Prosérpina, Cérbero e o lanceiro
e inundar de vida as trevas de um a outro extremo.
Pois que vivemos sob o peso de coroas lusas,
de grilhões nagôs, de genocídios tupis,
de ramos de café, de melaço de cana, de normas confusas,
de repúblicas nada públicas, de quadrilhas vis,
onde o sonho era morto a pauladas em lençóis verdes e amarelos
E a esperança a cada manhã violentada
dando à luz uma revolta muda em farelos
e por fim morria, velha e amarga, numa fila numerada.
É bem verdade que esperamos, somos o homem cordial,
cantamos, batucamos, aceitamos, jogamos e sorrimos,
mas quando vimos no espelho o riso bestializado do animal,
finalmente redivivos, as comportas explodimos!
É bem verdade que tivemos paciência,
que usamos dos meios legais,
que rogamos por misericórdia ao assassino,
que trabalhamos como serviçais.
E é bem verdade que buscamos ideologias,
uns à esquerda, outros à direita, outros importadas,
outros fora deste mundo, outros maquiadas,
mas aqui não há sonho nem propósito
enquanto o fruto estiver em mãos alheias.
Não, não espereis mais!
Não mediteis!
As vidas mofaram por esperar demais:
Cuspam neste pão, incendeiem este circo,
que os impérios de hoje não sobrevivem a tais!
É hora e inda que venha de nossas gargantas
ao final só mais um grito ensanguentado de estertor,
desta vez ele será ouvido em terras tantas
que fará tudo estremecer em seu clamor!