sábado, 25 de abril de 2015

SARAH POULTON KALLEY



“Ensina aos teus, Espírito Divino,
Dissipa as trevas destes corações;
E com a luz do teu celeste ensino,
Vem aclarar as santas instruções.
Aviva em nós as forças da memória,
Pois sempre mais queremos conhecer
O Rei dos céus, o Cristo cuja glória
Enleva os santos anjos de prazer. Amém.”

(Hinário Novo Cântico- Hino nº 3).



Nascida em Nottingham,
Terra mística de Robin Hood,
Em que as charnecas se espalham
E as nuvens as cobrem amiúde.

A mãe morreu pouco depois do parto.
A avó lhe preparou para um internato.
E a menina lia sobre missionários em terras distantes
Como se fosse sua história em quadrinhos na estante.

Ela foi a aluna mais brilhante:
Poetisa, pintora, pianista, poliglota.
Na sala de costura, cosia roupas para pobres errantes
E acompanhava nas revistas as dores dos povos à sua volta.

Já mocinha, considerava a hipótese de se casar
(Desde que não fosse com um médico ou pastor!)
Mas queria a ironia do destino a desafiar
(Ou melhor, os desígnios do Senhor),
E seu coração outro enredo iria urdir,
Como melhor se verá a seguir.

Aconteceu que seu irmão Cecil, tuberculoso,
Fora enviado ao Egito para inspirar outros ares,
Como se a terra da Esfinge e do Quéops poderoso
Pudesse lhe insuflar melhoras dos pesares.

Todavia, as hemoptises dos pulmões escavados
Levaram o pobre rapaz a óbito prematuro.
Mas, antes disso, o pai William, desesperado,
Viajava à Síria p’ra chamar um doutor mais maduro:

Robert Reid Kalley, que já perdera a esposa tísica,
Tentaria algum último tratamento de esperança
Que pudesse devolver alguma higidez física
Ao jovem que perecia lentamente em sofregância.

Tudo inútil! Oh, mais um golpe vil
Da morte que a nossos amados vem interpor abismos!
‘Té que um dia atravessemos o derradeiro alcantil
E alcancemos o porto fulgurante dos remidos!

Depois da perda tão pesada e tão sentida,
Todos voltaram à Inglaterra alvissareira,
E Sarah, agora impressionada e comovida,
Ouvia o doutor sobre a Ilha da Madeira.

Havia um trabalho cristão lá a ser feito,
E ele o fizera sob intensas perseguições.
Sarah a cada dia o olhava com mais respeito
E o coração ansiava por mais aproximações.

Em breve o noivado, depois o casamento.
Os dois partem para os Estados Unidos
Para trabalhar com os madeirenses em afugento,
Que tanto necessitavam de cuidado em seus espíritos.

Assim ia dominando pouco a pouco o português.
A última flor do Lácio caía em suas mãos
E já ia se tornando linhas de versos a coser
Em tecidos entrelaçados, decorados de artesãos!

Então chegou a hora de virem ao Brasil:
Aportaram em Petrópolis, cidade do Imperador.
Criaram uma Escola Dominical para o público infantil,
Contando a história de Jonas e da baleia, do mar vingador...

Assim nasceu a EBD aqui, sob protestos...
Quantos não reclamaram que era dia de guarda!
Como assim, ensinar, estudar, criar projetos,
No domingo, o shabbat dos cristãos, em que a hora retarda?

Mas ela continuou...

Depois pensou em criar um grupo de senhoras.
“Mas como assim, mulheres casadas não saem sozinhas!”
E enfrentando tudo, ela reuniu onze varoas espectadoras
Para sua palestra sobre Eva, que não se ateve a seu posto de rainha,
Trocando as flores do Éden puro e a companhia do Deus vivo
Pelas mentiras da serpente e a ambição do anjo caído.

Assim era fundada a União Auxiliadora Feminina,
Dando espaço na obra às irmãs antes tão tímidas,
Que mal podiam deixar a opressão dos lares sufocados
Para servir em tantas funções neste mundo necessitado!

Mas ela continuou...

Organizou os Salmos e Hinos
– O primeiro hinário evangélico brasileiro –
Traduzindo, compondo, ministrando ensinos
Em classes de música, culinária, mas de Bíblia primeiro...

O Conselho de Instrução Pública
Escolheu seu livro Alegria da Casa
Para instruir as moças casadoiras
A manter a arte e o amor como viva brasa,
A erigir valores como paredes sólidas,
A cuidar com esmero das crianças ávidas.

Depois de muitos anos que escoaram,
Os dois velhinhos já cansados,
Deixaram este país melhor do que o encontraram,
E buscaram repouso na Escócia dos reformados,
Onde chamaram sua casinha de Campo Verde,
E passaram seus últimos dias abraçados.

Ele morreu.
Ela ainda fundou a missão Help for Brazil
(Não conseguia pensar só em sua dor,
Mas vivia para o próximo e para doar amor...)
E quase vinte anos depois do marido
Foi-se ela também ao vale conhecido
Que fica além do Jordão a atravessar-se
Como última luta do cristão a glorificar-se!



FANNY CROSBY


A Deus demos glória, com grande fervor, 
Seu Filho bendito por nós todos deu 
A graça concede ao mais vil pecador, 
abrindo-lhe a porta de entrada no céus 
Exultai, exultai, vinde todos louvar 
a Jesus, Salvador, a Jesus redentor 
a Deus demos gloria, porquanto do céu, 
Seu filho bendito, por nós todos deu!


Vivo feliz, pois sou de Jesus, 
e já desfruto o gozo da luz 
Canta minha alma, canta ao Senhor, 
rende-lhe sempre ardente louvor
.


Certamente que conheces estas palavras,
Se de fato tens ido à Igreja.
Mas sabes de que alma partiu tal lavra
De louvor que até o céu adeja?

De uma mulher cega desde as seis semanas de vida,
Por culpa da inépcia de um médico substituto
Que receitara cataplasmas de mostarda quente à vista
Infeccionada de um bebê indefeso e miúdo.

O resultado foi irreversível
(E assim o foi decretado cinco anos depois...).
À mesma época, o pai já lhe havia morrido,
E a pobreza adentrava este lar tão sofrido.

Mas não penses que ali era lugar de lamento:
Havia uma avó que lhe lia a Bíblia por horas,
E a menina já decorara o livro de Rute, os Salmos,
Cheia de gratidão e contentamento,
Sem nunca descrer do amor de Deus ou da sabedoria de Suas obras!

Com vinte e quatro anos,
Em seu primeiro livro de poemas,
Já escrevia, em desafio aos murmuradores e profanos:
“Se quereis chorar por mim por eu ser cega,
Que o faça, pois eu não o farei!”,
Ela preferia dedicar-se à pronta entrega
À alegria de que lhe preenchia o Espírito,
Criando beleza na adversidade e luz na treva.

O próprio evangelista Moody
Lhe chamou em Massachussetts para um testemunho,
Que a todos emocionou, e em tal magnitude,
Que seus cânticos passaram a correr o mundo,
Junto às campanhas evangelísticas, amiúde.

E ela continuava trabalhando,
Lecionando na mesma Escola para Cegos
Em que fora aluna exemplar.
Preparava o culto infantil, criando
Um mundo belo para as crianças com novos métodos
De uma cenografia que ela nunca poderia enxergar!

Casou-se com Alexander, também cego,
Perdeu o seu primeiro e único filho,
E em cada criança que buscasse o seu apego,
Ela lembrava do frágil rebento já partido.

Mas essa dor ela transformava em luta,
E cada dissabor era alimento para a labuta,
Pois essa mulher – em quem só enxergamos problemas e um rude destino –

Viveu contente, esperançosa, e deixou quase nove mil hinos! 



terça-feira, 21 de abril de 2015

REV. JOSÉ MANOEL DA CONCEIÇÃO



É o filho de Dona Cândida, o filho de Manoel,
Entregue-lhe a batina, o amito, a estola,
a alva, o cíngulo, a casula, este terço, este anel,
que ele será sacerdote que fará história.


É inteligente, é bom, foi criado
por tio-avô também padre,
já sabia a mãe que seria abençoado
tão logo rompeu a madre.


Mas veja que ele gosta demais da Bíblia,
e estão a chamá-lo de “padre protestante”...
Ele literalmente “não tem papas na língua”
e prega como um Savonarola beligerante!


O bispo Dom Andrade está preocupado sobremaneira:
O que fazer para que mude a ideologia torta?
Transferi-lo a Piracicaba, Monte-Mor, Limeira,
Taubaté, Ubatuba, Santa Bárbara ou Brotas?


Diga-lhe para voltar a usar o escapulário
para escapar no último dia ao Purgatório,
a usar a medalha milagrosa de Catarina Labouré,
o Código de Direito Canônico, a permissão da Santa Sé,
que se conforme à milenar liturgia,
que defenda a Imaculada Conceição
como Bernadette Soubirous,
que clame a Santa Rita no dia de agonia,
que tenha por São Jorge especial devoção,
que beije as relíquias que Roma aprovou.


Quem ele pensa que é?
Que quer seguir um cristianismo
só prestando atenção ao Cristo
e a mais nada que lhe mande o arcebispo
e nem mesmo o Papa Gregório?
Pois que tivesse proceder mais meritório
a fim de passar menos tempo no Purgatório
e merecer a bem-aventurança eterna,
bem cimentada em obras e piedosas rezas!


Mas ele não se emendou,
e ainda passou a ter com presbiterianos,
conversava por horas com o Reverendo Blackford,
e foi este que o batizou.
Ele viu seu primeiro culto entre paulistanos
e cantou hinos de Spafford.
Professou sua fé agora com mais coragem,
já sabendo que de Roma lhe viria a voragem
a tentar tragar sua novel mensagem.


Em 1865, num claro domingo,
depois de pregar em Lucas 4.18-19,
sentindo um renovar infindo,
que finalmente sua alma absorve,
expõe em um sermão exaltado
sobre o ungido do Senhor pra curar os quebrantados.
E logo depois, aprovado unanimemente pelo Conselho,
foi ordenado o primeiro pastor brasileiro!


Percorreu a pé, de novo, todas as cidades
que percorrera como padre na mocidade,
a pregar agora, como pastor,
o Evangelho que toda a vida defendera com ardor.


Era um Saulo caindo ao cavalo, atingido pelo fulgor,
Era um Lutero entrando em guerra perigosa.
Estrondava a já esperada manifestação de furor,
que prenunciava o recolher da mão obsequiosa.


Os jornais publicaram sua sentença de excomunhão.
Em Pindamonhangaba foi insultado.
Em outra fazenda, o dono lhe pôs a perseguir um cão.
Em Campanha foi apedrejado
e deixado quase morto ao chão.


Nômade, andarilho, vivendo de pequenos serviços.
Perto de Piraí, foi preso como indigente.
Liberto, caminhou ao Rio, em busca dos amigos,
Mas caiu, à beira da estrada, sofrendo gravemente.


No hospital, recebeu roupas novas, um ralo caldo,
falava pouco, queria estar a sós com o Senhor.
Será que pensava em suas escolhas, e em seu saldo?
Em quantas almas levara a Deus, se aprendera o vero amor?


Já na manhã seguinte o encontraram morto,
enquanto dormia, despertou no Céu.
Sua alma sequiosa encontrava porto
e seu corpo encontrou digno mausoléu:
Depois de três anos do primeiro enterro
foi trasladado ao Cemitério dos Protestantes,
ao lado de Simonton, o pioneiro,
sua lápide aponta para a glória dos triunfantes.


Deveríamos nos lembrar desses pés incansáveis
e continuar a jogar sementes nos montes e nos vales...




SALOMÃO LUIZ GINSBURG

Um judeu errante no Brasil,
Assim de denominava em sua autobiografia.
De errante teve muito em um mundo vil,
Como tivera seu povo em sua história de melancolia.

Era filho de rabino,
Na antiga Polônia dominada pelos russos.
Era diferente desde menino.
Ao invés do Talmud, preferia outros assuntos.

Via a Torá diferente, como se apontasse
A uma outra necessária conclusão.
Lia os profetas de forma coerente
A apontar para mais completa redenção.

Quando lhe caiu às mãos um Novo Testamento,
Percebeu que o Messias não estava apenas por vir,
Se bem que de fato voltaria para o Final Julgamento,
Mas que já viera, servo e fiel, na cruz o seu povo remir.

Não suportando mais os sabbats, o Yom Kippur, o Purim,
Foge à Inglaterra para a casa de seus tios,
Quando conhece uma missão para judeus convertidos assim,
Que como ele, queriam pregar o Evangelho aos gentios.

Aprende uma nova língua em Portugal,
E convidado por Sarah Poulton Kalley, a notável,
Vem ao Brasil começar sua obra triunfal
De compor, traduzir e espargir sua voz afável.

Casou-se com Emma, teve seis filhos.
Entre os batistas, secretariou a Junta de Missões.
Fundou o jornal As Boas Novas, cantou milhões de estribilhos,
Plantou igrejas, fundou Seminário, suportou perseguições.

Traduzindo hino a hino – e acrescentando alguns seus –
Ia criando bem aos poucos o que seria o Cantor Cristão,
O Hinário dos Batistas foi sua obra de levita e nazireu
Inteiramente dedicado às harpas do Templo de Salomão!

Levava consigo um harmônio portátil
E uma grande tenacidade de coração,
Que aprendera com seu povo versátil,
Levando à Babilônia os cânticos de Sião!

Chuvas de bênçãos teremos!,
Uma barca naufragando, quem lhe valerá?,
Eram versos que repetia em extremos
Quando lhe invadia a angústia dos filhos de Corá.

E Deus lhe deu mesmo livramento da tragédia
Quando, adiantado, embarcou no Majestic,
Navio modesto rumo à Nova Iorque gélida,
E por pouco não realizou seu sonho de embarcar no Titanic...

Finalmente, em 1927, Deus lhe chamou ao Israel Celestial,
Poupando-lhe do desprazer da Grande Depressão,
Do Holocausto, da Segunda Guerra Mundial,
Em que tantos de seu povo pereceram em desolação...




sábado, 18 de abril de 2015

CHARLES FINNEY


Petições, despachos, sentenças, recursos, escrituras,
Sustentações, embargos, vereditos, data maxima venia!
Não essa a vida que Deus escolhera para tal criatura:
Ao advogado de Connecticut fora outorgada outra centelha.

Um dia, no escritório, depois na floresta,
Ondas de amor lhe percorreram o corpo,
Como em espasmos de pranto, alegria e festa,
E o doutor não conseguia mais mudar o rosto:
Sorria, chorava, não dormia, de repente se ajoelhava,
E como se diante do próprio Deus, dia e noite ele orava.

Sabia que o Santo Espírito lhe inundara como poesia
Que nascia das entranhas tal fagulha entorpecente,
E nada mais na vida valia essa alegria,
Que o inundava como asas de vento incandescente.

Formado ministro presbiteriano,
Deles um dia discordou.
Pregador em tempo integral,
O Segundo Despertar liderou.

Escreveu sua Teologia Sistemática,
Lecionou no Oberlin College metade da vida.
Sua presença esguia, olhos profundos, alma empática,
Lhe granjeavam reações várias, menos apatia.

Em suas reuniões havia urros, risos, corpos ao chão,
Pessoas e cidades mudavam de rumo de dia pra dia.
Parecia que sua fala era adaga ao coração,
Que enchia o peito de arrependimento e histeria.

Temos a nos indagar se seus métodos
Focaram mais no homem que em Deus,
Ou se seus cultos pareciam mais espetáculos
Destinados a quebrantar ateus.

Seria ele o precursor de tantos
Que hoje dominam espaços midiáticos?
Que ao invés da oração dos santos
Recorrem ao planejamento tático?

Seja como for, seu nome habita a história,
E liga o Primeiro Avivamento da Nova Inglaterra
À Rua Azusa da antiga Califórnia
E a cada despertamento até os confins da Terra.

Que mistérios circundam os desígnios divinos
Não nos cabe perguntar, que somos pequeninos,
Mas nos cabe rogar por mais um avivamento
Que este mundo parece que caminha para um sepultamento!




sexta-feira, 17 de abril de 2015

REV. ASHBEL GREEN SIMONTON



Tolot-tolot, galopa o cavalo em Antigua,
A fazenda da Pensilvânia, os oito irmãos,
Os campos pardos, a vida assídua,
A Faculdade de New Jersey, o descontentamento,
O Seminário de Princeton, o despertamento...

Durante uma pregação de Charles Hodge,
O Espírito Santo lhe sussurra sobre a seara:
Campos missionários de onde a maioria foge
E milhões de almas morrem sem a Palavra...

Ordenado pastor, singra os mares no mesmo ano,
Como se soubesse do pouco e trágico tempo que tinha.
Organiza a Igreja Presbiteriana no Rio de Janeiro,
Com Alexander Blackford, vai tecendo a tênue linha
Que iria romper as barreiras do atoleiro.

Tolot-tolot, galopa nas estradas de barro,
Leva bíblias, leva esperança, leva sonhos, heroísmo.
Luta contra preconceitos, luta contra o escárnio,
Luta contra autoridades, luta contra as potestades!

A igreja caminha pequena, sublocada,
A Imprensa Evangélica quase é fechada,
O Seminário Primitivo enfrenta a nova empreitada
De formar homens preparados numa terra despreparada.

Os portugueses trouxeram o catolicismo,
Os índios legaram seu mundo de animismo,
Os yorubas transformaram seus orixás em sincretismo,
E Bezerra de Menezes buscou da França o espiritismo.

Os intelectuais sonhavam em se tornar maçons:
Liberais, democratas, servos do Grande Arquiteto!
E os Conselheiros da Coroa, fieis servos de Mamon,
Torciam escravos bantos que batucavam o Alaketu!

Veio pregar a doutrina pura de Jesus,
Sem quilos de tradição, sem mesclas de deuses pagãos,
O direto e estreito caminho da cruz,
Onde somos soldados e somos irmãos!

A Bíblia como única regra de fé e de conduta,
O Catecismo de Westminster respondendo às questões,
As Institutas de Calvino e sua teológica disputa
Aos cânons romanos de escolásticas ilusões.

O Hinário de tão belos hinos
A permitir o coro da congregação
E a Escola Dominical dos meninos
A reforçar a fé com a razão.

Oh, quanta verdade a resplandecer na mentira!
Quanta liberdade dos grilhões da cegueira famélica!
Não demorou a levantar-se a satânica ira
Contra o Evangelho pregado ao Sul das Américas!

Por vezes sob a forma de traição,
Por vezes a calúnia, a injúria, a difamação,
Proibições do Estado, apedrejamento, linchamento,
Mas o grande Leviatã era corroído p’lo Avivamento!

Tolot-tolot, agora vem a cavalo com alguém à garupa:
Helen, a jovem esposa que buscara em Baltimore.
Seus sonhos aumentavam em número, em lutas,
Sua vida oferecida a Deus em altar-mor.

Um bebê a caminho, novas estradas e novos meios,
A igreja chegando a São Paulo,
Um ex-padre se forma o primeiro pastor brasileiro,
E novos missionários obedecem às ordens do alto.

Um Brasil Presbiteriano começou a se formar
A deixar uma herança de escolas, hospitais,
Um mundo transformado, com menos sofrimento,
Até Dom Pedro II se via a respeitar
O que esses fieis faziam por seus filhos, por seus pais,
O novo país que estavam a edificar!

Mas Helen cai morta em momento inesperado:
Nove dias após sua filhinha nascer.
E Simonton, em terras paulistas, desabado,
Já não encontra forças pra suportar o anoitecer.

Acometido da temida febre biliosa,
Ardendo em lágrimas e tremores,
Pergunta à irmã se valera a pena a lide infrutuosa,
Se deixara por colher algum fruto nos estertores.

Virou de lado, encolheu-se e assim morreu,
34 anos, enterrado no bairro da Consolação.
Mas saibas, Reverendo, na Glória de Deus,
Hoje aqui estamos, um milhão de presbiterianos,
Falando do Deus verdadeiro a esta amada nação!








JOSÉ DE ANCHIETA


Na praia de Iperoig,
Escrevia nas areias do tempo,
No tempo da aurora de Araci,
O apóstolo das vestes de vento.


Trajado co’o manto negro dos jesuítas,
Cantando à Virgem e ao seu Filho,
Andando léguas e mais léguas aflitas,
Escrevendo o mesmo estribilho.


Não temia o Caramuru
A revoltar os oceanos.
Nem ouvia o Uirapuru
A cantar os seus reclamos.


Sob a luz dourada de Guaraci,
Ou sob a luz azulada de Jaci,
Sem crer no Caapora, na Uiara,
Rudá, Tambatajá ou Jurará-Açu,
Não temia Anhangá, M’Boitatá,
Não se comovia com Anhum!


"Ele vive nos mistérios celestes,
Dizem que levita, ressuscita,
Sobe em cipós e ciprestes,
Ele reza e todo povo lhe acredita”.


Ele trouxe o Deus de longe
Mais poderoso que Tupã daqui.
Ele disse que Deus mesmo veio aqui
E lhe cravaram espinhos na fronte,
E lhe cuspiram e lhe açoitaram
E por fim lhe pregaram
Nos dois paus cruzados
P’ra que nós fôssemos salvos.
– Ele ensinou –


O Deus quando nasceu,
Nasceu de uma virgem,
O que o povo não entendeu.
Mas o que deu mesmo vertigem
Foi saber que o Deus era três e era um
E que descrer d’Ele
Não deixava caminho algum.
– Ele ensinou –


Que seria então dos pobres antepassados
– Rupave, Sypave, o trapaceiro Japeusá –
Que nunca ouviram daqueles lábios
As boas-novas da terra de Judá?


Será mesmo que se importava
O Deus dos judeus, o Deus dos brancos,
Co’os filhos desta terra de brasa viva e brava
De bravos guerreiros vermelhos sem mantos?
Ele nos era a prova que sim.


Ele mesmo com calma, enquanto o mundo se acabava,
Tratava da paz entre os tamoios e os tupis,
Isso quando antigamente tudo terminava
Com cabeça esmagada na clava
E corpos assados, comidos como lambaris.


Ele fez uma gramática da nossa língua,
Ele falava com feras da selva, que lhe respeitavam as cãs,
Ele sobrevivia sem pão sem água dias à míngua,
Ele protegia nossos curumins e cunhatãs.


Ele fundou a São Paulo de Piratininga,
Na muralha verde da Serra do Mar.
Achavam que era feiticeiro de mandinga
Quando em transe se elevava no ar.


Ele escrevia a seu primo Inácio de Loyola,
Pedindo conselhos e orações.
Ele fez guerra aos calvinistas franceses de outrora
Que lhe fariam concorrência nos corações.


Ele faria o que fosse necessário
Fosse bom ou fosse ruim.
Fosse humano ou proviesse do seu místico rosário,
Fosse coisa de mangará açu ou mangará mirim.


De Peruíbe, Itanhaém, do riacho maldito Anhangabaú,
Não havia aldeia que não conhecesse o padre Angatu.
Se nosso povo teve que começar assim
Foi dos desígnios do Deus sem fim...


Às vezes me pergunto se ele foi mesmo morrer em Iriritiba,
Ou se em qualquer caverna no mato por onde tanto ministrou,
Transformando o pão em corpo, o vinho em sangue,
Ele não continue uma prédica desiludida e exangue
Por este país torto que nunca se emendou...




domingo, 12 de abril de 2015

WILLIAM WILBERFORCE


Filho da nobreza de Yorkshire,
Vivendo em contradições e refinamento.
Famosos de Norfolk a Lancashire,
Seus discursos o levaram ao Parlamento.


Jovem político sagaz e conciliador,
Entre viagens de navio e expresso a vapor,
Eventos no jóquei e rodadas de bridge,
Acabou por conhecer a obra de Philip Doddridge
(O compositor do hino “Oh, Happy Day!”,
Que celebra a liberdade do pecado e da lei):
“The Rise and Progress of Religion in the Soul”,
Cujas linhas, junto à Bíblia, seu coração quebrantou.


Lamentou-se por sua desídia,
Tantos anos jogados fora!
Haveria perdão para um pecador de perfídia,
Mundanismo, vaidade e desforra?
Em Cristo há perdão para todos    
E agora somos escravos forros!
Mesmo para Paulo assassino,
Maria Madalena prostituída,
Zaqueu e Mateus corrompidos,
Davi tirando vidas!


O filho pródigo pode retornar ao lar,
Que o Pai sempre irá se alegrar,
Há esperança para cada um de nós
Se nos reconhecermos inúteis e sós...


Wilberforce pensou até em ministério,
Mas não só como pastor pode servir o homem cristão.
Deus o queria em outro front, em outro batistério:
O fogo cruzado dos votos, atos, decretos e ação!


Por quantos anos lutou para renovar costumes,
Combateu a crueldade contra animais,
Estabeleceu escolas para pobres, levou para as trevas lumes,
Financiando missões transnacionais.
Litigou pela liberdade religiosa,
Ajudou a fundar a colônia de Serra Leoa
Para os escravos fugidos de sua vida desditosa,
E para não deixar detentos à toa,
Levava-lhes livros, preces e atividade proveitosa.


Com seu Grupo de Clapham,
Ficou conhecido em toda Londres,
Freedom and faith captain!
Antepassado das nossas ONGs!


Mas sua luta mais famosa e encarniçada
Foi pela completa Abolição da Escravatura.
Por ela foi injuriado, espancado, na guerra árdua
Contra a Coroa, a Corte, a Legislatura,
Os conservadores e radicais,
E a Companhia das Índias Orientais!


Vários anos lhe renderam frutos:
Começou pelo fim do tráfico negreiro
– Os túmulos dos mares encapelados e brutos –
Que fazia de marujos carrascos e coveiros.


O Império Britânico se converteu em polícia
Dos oceanos da aurora ao crepúsculo,
Contra Portugal, Espanha e Bélgica, u’a milícia
De óbvio êxito minúsculo.


Sabemos por quanto tempo se escondeu o contrabando
De seres humanos tratados pior que camundongos,
Praguejando em porões suas mandingas em banto,
Fugindo por selvas, construindo quilombos!


Nos seus últimos dias sãos,
Em julho de 1834,
Wilberforce, com o rosto entre as mãos,
Ouvia a leitura do Ato
Que trouxe a Emancipação
Aos filhos de Cam, de direito e de fato,
Quatro dias antes de seu falecimento,
Foi a carreira coroada de contentamento!


Amigo de John Newton, John Wesley, Hannah More,
Sabia que o cristão não pode deixar de fazer a diferença:
É sal da Terra, luz do Mundo, mordomo-mor
Da Casa Real em que vive o Trono da Divina Presença!
Por isso pergunto a ti, também, cristão:

Que testemunho tens dado aqui, com teu agir, teu coração?