quarta-feira, 12 de junho de 2019

SONETO AFRICANO



“Mama África, a minha mãe,
É mãe solteira
E tem que fazer mamadeira todo dia,
Além de trabalhar como empacotadeira nas Casas Bahia.
(...)
Deve ser legal ser negão no Senegal,
Deve ser legal ser negão no Senegal...”.

CHICO CÉSAR


Robusta, esguia, amazona de ébano,
Dos reinos d’Angola e do Daomé,
De egunguns, faraós e seu féretro,
Das cidades livres – Oió e Ifé.


Ó tu, que violada e escravizada,
Inda vende quitutes em Dakar,
E proteges a savana abrasada,
E sonhas com Cape Town e Zanzibar!


Combates caçadores, ditadores,
Secas e fomes, também preconceitos,
Dás filhos refugiados, sem leitos.


És bela Oxum, arco-íris de Dan,
Sudanesa, banta, khoisan, tuaregue.
Canta aí um blues, jazz, samba, rap, reggae!




SONETO MAÇÔNICO



O livro da lei, o esquadro, o compasso.
Céu estrelado sobre três colunas.
A pedra polida e o malho de aço.
A acácia mais florada e a escada em curvas.


Um chão de opostos, um sol do Oriente.
Com rito de Pike, com normas de Anderson.
De um novo mundo plantaram semente.
Tiveram Mozart, Dom Pedro e Washington.


“Liberdade, igualdade, fraternidade!
República, abolição, tolerância!”,
Num mundo de reis e de atrocidades...


De Salomão, pedreiros, templários,
Ou de Londres – secretos ou discretos,
Inda estais servindo ao Grande Arquiteto?
  



sexta-feira, 7 de junho de 2019

SONETO DA ALQUIMIA


Quem me dera criar uns homúnculos
No crisol de um laboratório escuro,
E encontrar a cura do carbúnculo
Com os metais do elemento mais duro.

Encontrar a pedra filosofal
E produzir o aroma mais floral
E conjurar os espíritos do éter
Sob o último raio da estrela vésper.

Suplantar Hermes, Celso, Paracelso,
Saint-German, Rosenkreutz, Nicolau Flamel,
Seguindo as rotas do Céu Excelso!

Que ao transmutar matéria com cinzel,
Faz mais importante, Fausto imerso,
Transmuta a si mesmo num mundo rebel!



SONETO DA CABALA



No idílico pomar das macieiras,
Passeavam Baal Schem Tov, Luria,
Cordovero, Avraham, Moshe, Aquiva,
Torno da merkabah de pedrarias.

As dez sefirot tocavam o chão,
Que brotou o golem, o Adão Kadmon.
A noiva adornada, shekiná, então,
Constava nos livros de Metatron.

De nefesh a ruah a neschamá,
A alma crescia, tão linda, ao Gan Éden,
“Alef, mem, shin, hê, yod, vav”,

Recitam as almas que se despedem…
Mas só porque se abandonam se encontram
No seio de quem dançam e procedem!