quarta-feira, 23 de setembro de 2015

OS CRISTÃOS DE HOJE



“Renuevame, Señor Jesús,
Ya no quiero ser igual,
Renuevame, Señor Jesús,
Pon en mi tu corazón.
Porque todo lo que hay dentro de mi,
Necesita ser cambiado Señor,
Porque todo lo que hay dentro de mi corazón,
Necesita más de ti”.

                                              MARCOS WITT



Não são mais como aqueles
Que morriam nas arenas louvando.
Não são mais como aqueles
Que morriam pela verdade queimando.
Não estudam a fundo, não decidem em concílios.
Em nada são doutos, a não ser em empecilhos.


Falam palavras pesadas, odeiam-se.
Dão largas risadas, enfrentam-se.
Não defendem a justiça,
E se o fazem, é sem amor.
Preferem falsas premissas
A discernir com rigor.


Trocam aprendizado por espetáculo
E discipulado por receptáculo
Das mais vis paixões
(Suas adúlteras ilusões!)


E se antigamente, a palavra dada era penhor,
Hoje se lhes exigem mil hipotecas por um favor!
Já não se encontra quem ande trilha de ovelha,
Com tanto sonho de ser lobo, de ser estrela!


Não se identificam abraços nos rostos vazios.
Não se acham mais ombros na guerra civil.
Não se vê mais o que preste, ao longe, ao redor,
Não se vê o que preste no espelho, ó falta mor!


Quem somos nós? Quem somos nós?
Que vestimos túnicas de Pilatos, máscaras de Caifás,
Que somos mornos, vacas de Basã, sinagogas de Satanás,
Levitas em público e idólatras a sós?


Tão ciosos da honra do ego,
Tão afoitos e tão cegos,
Que esquecemos o Rei do banquete
Do lado de fora do palacete?


E quanto ao coração que devotamos
A tudo que nos corrói e tanto amamos?
Ou os hinos que cantamos desafinados,
Sem prestar atenção ao significado da letra?
A vida que levamos atarefados,
Irresponsáveis da eterna meta?


Ainda rogo que em tanta miséria
Nos apercebamos do quanto é séria
A missão do escravo que foi feito filho,
A seara do trigo, a debulha do milho,
O combate do soldado, sem trégua, sem estribilho,
A gestão do servo, a prestar contas do exílio.


Queira Deus que a alma encontre a Sua luz,
De onde veio, pr’aonde vai, a lhe preencher a vida,
Pois pobre do que nesse mundo não cair diante da cruz:
Conhecerá aqui o vazio e lá adiante a paz jamais tida!









terça-feira, 22 de setembro de 2015

TEOLOGIA DA PROSPERIDADE



Ligue a TV, ligue o rádio, pegue o jornal.
Olhe as fachadas nas ruas, os indícios nas operações escusas.
Disque nas madrugadas solitárias de temporal.
Eles estarão lá. Não aceitam derrotas, não entendem recusas.


Peça, por varejo, por atacado.
A farmácia é completa. A satisfação é garantida.
O investimento é a curto prazo.
Os juros são uma alma perdida!


Sorrisos, cabelos, colarinhos, gravatas.
Promessas, gritos estridentes, bravatas.
De repente há um revival de indulgências, de relíquias,
De simonia, de xamanismo, de estultícias...


Faz-nos querer chamar Jesus contra os vendilhões do Templo.
Faz-nos querer chamar Lutero contra João Tetzel.
Faz-nos ver que o homem não muda, só mudam os tempos,
E que ainda se trocam moedas de César por sacros shekels...


Como se Deus fosse tal máquina de refrigerante
Em que se depositam dízimos e ofertas
(Oferta de Caim, que fique bem claro e gritante...)
E se esperam snacks e latinhas, por meio de fórmulas certas.


E se não vêm? Chuta-se a máquina?
Como uma criança aos berros, determina-se, impreca-se,
E não tem erro essa tática,
Por que se tem, a culpa é sua, lasque-se!


Em egos gordos a doutrina vai se depositando,
Como tecidos adiposos de felicidade pastosa.
E a vida vai correndo em mercadorias se esgotando,
E a alma com sede, enganada e desgostosa!


Dos púlpitos trovoam guerras de Davi, Gideão, Josué.
A mesma frase de Malaquias nas bocas dos gazofilácios.
Os óleos santos, as toalhas ungidas, os leões da fé.
As orações fortes, os sonhos co’os palácios.
O copo d’água recebe ondas-bênçãos em cima da televisão.
E a dívida no tabelião importa mais que o divino perdão!


Se isso começou com Kenyon, com Hagin, com Hinn,
Com o pensamento positivo, com o transcendentalismo,
Com o materialismo, com o capitalismo, enfim,
Devemos nos perguntar se isso é cristianismo.


Se a cura de Deus vale mais que o Deus da cura,
Se a salvação se restringiu a esse mundo passageiro,
Em que passageiros somos num deserto de secura,
E não devemos nos seduzir pelas malas do bagageiro,
Por que insistir numa riqueza que no fundo é só pobreza:
Cisternas rotas que escavamos, longe do Deus de toda grandeza?


Ó manancial de águas vivas, rio sem fim!
Que corre do coração que suspira como as corças
Pelo seu Salvador, por seus átrios de marfim!
E tantos se contentando com o conforto de palhoças!


Porcos na sala, tumores do corpo, parasitas do espírito!
Falsos profetas, lobos em pele de cordeiro, estelionatários do aflito!
Todo cuidado é pouco. Todo que se deixa enganar é louco.
Pois é tão fácil abdicarmos de uma primogenitura abençoada
Por um prato de lentilha bem temperada,
Ou mesmo nos esquecermos da Canaã que tudo vale,

Preferindo ser escravo no Egito por uma panela de carne!






segunda-feira, 21 de setembro de 2015

TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO


Há um Vladimir Ilitch debaixo do púlpito.
Há um Maiakóvski morto debaixo da mesa da Eucaristia.
Há uma perda de paciência, um acesso de ira súbito.
Há uma inversão de valores, não bastasse o entulho de heresia.

Paredes e colunas caiadas de vermelho.
Bandeiras estranhas caindo sobre os crucifixos.
Cegos surdos loucos tentando quebrar grilhões de seus artelhos.
Que é que de fato olha de sobre os altares, com olhos fixos?

A multiplicação dos pães virou partilha,
Não mais milagre.
O que se espera é um soldado de guerrilha,
Não mais um padre.

Foice e martelo – não a cruz!
Jesus veio salvar da miséria do mundo – não do pecado!
O mal é institucional – e não o coração do homem que o produz!
Os heréticos por isso excomungados são perseguidos, são uns coitados!

Rescaldo do Vaticano II, de Medellín, do CELAM,
Das Comunidades Eclesiais de Base,
De Gutiérrez, de Leonardo Boff, de Frei Betto, de Rubem Alves,
De Lukács, de Gramsci, de Paulo Freire, de toda utopia pagã,
Eles nasceram lutando por causas certas
Com ideias equivocadas,
Escancarando portas abertas
Para uma herança amaldiçoada.

Tentando erigir o Reino de Deus como zelotes,
Pegando em armas, identificando Satã com o Governo,
Abandonando a Vida, com cantos de morte,
Relativizando a moral, como um mote obsceno.

Se a Teologia era até então eurocêntrica,
Por que escolheram um judeu alemão?
Quem lhes deu autoridade para abandonar a teocêntrica
Antropologia bíblica da redenção?

Oh, errantes homens, quiçá bem intencionados,
Lembrai-vos que os planos de Deus
Estão acima dos nossos, tão mal ponderados...
Vede isto como vossos olhos ateus!

Queira Deus abrir vossos olhos e mentes,
Antes que vossa prédica misturada à política
Transforme nossa América Latina de sofredores e emergentes
Num monturo de dejetos ideológicos e mentiras cívicas!
















quarta-feira, 9 de setembro de 2015

JESUS PEOPLE MOVEMENT





“Por que o demônio deve ficar com os melhores tons?”

MARTINHO LUTERO




“Por que o diabo deve ficar com toda a boa música?”

GEOFF MOORE




Estava o mundo em adolescente crise existencial
(ou, segundo outros, “no êxtase da História”):
Mulheres e negros lutavam pelo direito de ser igual,
E tudo que parecia novo atingia a sua glória.


Formavam-se barricadas em Paris.
San Francisco coloria-se de arco-íris.
A Primavera de Praga desafiava Moscou.
Estudantes contra generais, e o terror se implantou.


Pedia-se paz no Vietnã.
Proliferavam viagens astrais.
Protestava-se ao som de Bob Dylan, Joan Baez,
E a guitarra estridente de Hendrix também tinha sua vez.


Quando Lennon disse “O sonho acabou”,
Quando a Revolução se tornou utopia,
Quando os Beatles terminaram, e com eles a histeria,
E o adolescente de repente adulto acordou,
Ainda restava o vazio eterno do homem
E os que não se acabaram em overdose
E os que não traíram os ideais que somem
E os que não se desesperançaram em pequenas doses,
Tentariam construir seu próprio caminho,
Ou acordariam para ver o Único Caminho...


A Revista Time repetia Nietzsche, o anticristão:
“Será que Deus está morto?”
As igrejas se esvaziavam de comunhão,
Fossilizadas num ritualismo torto.
Os lares desmoronavam como nunca.
Tumultos raciais tomavam praças.
Vidas acabavam cedo, enquanto nada muda,
E a roda do tempo repetia desgraças.


Distrito de Height-Ashbury, Costa Oeste,
Ensolarada terra de hippies e alternativos,
Ali nascia a contracorrente da peste,
Espalhando luz dos meios mais imaginativos...


Em coffee houses ou com um violão à esquina,
Sem tradições pesadas, órgãos poeirentos ou negras batinas,
Na rua, na relva, na Calvary Chapel em Costa Mesa,
Um avivamento tomava forma e causava estranheza.


Os cabeludos não recebidos em outros lugares
Batizavam-se aos milhares, cantavam hinos
E compunham suas canções em seus estilos peculiares
Para que Deus os ouvisse em seu canto genuíno!


“Doidos por Jesus”, “evangelistas psicodélicos”:
O barato era outro, bacana era o ajuntamento,
E aqueles espíritos, antes rotos e famélicos,
Agora exultavam sem qualquer entorpecimento!



Você pode falar o que quiser,
Mas muitos que nunca viriam, vieram.
Você pode resistir, se quiser,
Mas ainda persiste a transformação que trouxeram.



Sem eles, não haveria Vineyard Music Group,
Não haveria Andraé Crouch, Ron Kennoly e seu black gospel,
Não haveria Petra, Stryper, Narnia e seu rock gospel,
Não haveria o piano de Marcos Witt, de Michael W. Smith,
Nem a Hillsong australiana e sua fábrica de hits.
Não haveria os Vencedores por Cristo, por cá,
Plantados no Brasil por Jaime Kemp,
Nem as vozes famosas do rádio da MK Publicitá,
E talvez, quantos menos jovens convertidos de repente
Ao som das mais tocantes melodias,
Hoje “plugados” numa nova koinonia!



O homem mudou, Deus é o mesmo.
E Sua forma de agir é misteriosa...
O homem acerta, o homem deturpa a esmo.
Mas Deus conduz Seu propósito com mão poderosa.



Guarde em seu coração aquelas canções
Que falam do grande amor do Pai a lhe receber,
Daquela cruz no Calvário das aflições
Em que o Filho se entregou por amor a você,
E do Espírito Santo que lhe guiará pela vida,
Consolando e preenchendo esta árida lida
Que todos levaremos até o suspiro derradeiro,
Em que os Céus se nos abrirão por inteiro...










terça-feira, 8 de setembro de 2015

REV. DAVID WILKERSON




"Estou cansado da música que faz jovens pularem ao invés de dobrarem os seus joelhos."

"Evangelho Diluído não é Evangelho de Cristo".



Vivias num lugar pacato.
Teu pai e teu avô foram evangelistas.
Conhecias o fogo pentecostal inato
De louvores e cânticos avivalistas.


Cresceste alheio à geração perdida do jazz, ao modernismo,
aos beatniks, ao R&B se transformando em rock n’ roll,
à pop art, à nouvelle vague, ao feminismo,
aos tumultos de Woodstock, Ilha de Wight, Stonewall...


Nunca precisaste da droga de Albert Hofmann;
Nem dos contos macabros de E.T.A. Hoffmann;
Nem do piano de Fats Domino, de Little Richard;
Da guitarra de Chuck Berry, das portas da percepção
de Aldous Huxley, nem das portas de Jim Morrison
nem de sua Celebration of the Lizard...


Sabias do potencial inegável do Ocidente
Para sua própria corrosão,
Atingindo de maneira sutil e inconsequente
Sua própria prole em formação...


Ficaste chocado quando leste na Revista Life
O sinal dos tempos, sinal de morte.
A gang dos Dragons, suas correntes, porretes, canivetes,
Baseados, seringas, cicatrizes de toda sorte...


Teu ardor evangelístico clamou de dor e angústia,
Como o de Paulo na Atenas de filósofos vãos e deuses pagãos,
Que poderiam causar-te ódio, ojeriza e lamúria,
Mas só vias espoliados, condenados, erguendo imundas mãos!


Foste pregar, em becos, em buracos, em bocas,
Em bares, prostíbulos, boates, docas, e não poucas
Moradias precárias onde nem cães deveriam morar
Mas seres humanos lá viviam a se digladiar.


Como lobos em matilhas que disputam o poder
Com os dentes, as garras e os latidos,
Pelas fêmeas arrastando-se em troca de ser
Providas de entorpecentes, fetos natimortos e grunhidos.


Manhattan, Brooklyn, Bronx, Harlem Hispânico...
Com os restos que a América progressista vomitou
E escondeu nas suas entranhas de discrição e pânico,
Vendo o monstro que crescia e nunca recuou!


Quantas vezes não levaste para casa
Dependentes em crise de abstinência?
Quantas vezes não chamaste, com o coração em brasa,
Aqueles, chafurdados em excrescência,
Que não enxergavam um palmo à frente do nariz,
Para encontrarem, na Igreja da Times Square,
A única Luz que guia, o único Destino feliz?


E quanto a Nicky Cruz, o porto-riquenho,
Que lhe agrediu enquanto só lhe repetias, impassível:
“Jesus te ama!”, mas não como um jargão rouquenho,
E sim como quem vive o que fala, de forma tangível?
Ele foi ao culto, ele se arrependeu.
Ele chorou, ele se entregou a Cristo.
Levou a Palavra a outro, que também se converteu,
E não parou mais de pregar sobre o Messias que havia visto
Quando o Espírito lhe abriu os olhos do coração
Pra entender que Deus pode dar a qualquer um perdão
E salvar o mais iníquo dos homens, qual ladrão da cruz,
Seja ele Paulo, Maria Madalena, Mateus, Zaqueu, Raabe,
E até, se o quisessem, Judas Iscariotes, Jezabel e Acabe!


Tuas histórias de luta lançadas no teu livro,
A Cruz e o Punhal, publicado em 30 países,
Best-seller e transformado em filme,
Ainda influenciam a milhões e deitam raízes.
A Igreja na Times Square
Continua lá onde iniciaste teu trabalho.


O Desafio Jovem, que criaste nos anos sessenta
Para libertar os cativos do vício
– Que tanto arruína a dignidade de quem tenta
Inutilmente escapar a seu satânico ciclo –
Continua a exceder outros serviços de apoio em níveis de cura.
E perguntam alguns, perplexos: “Seria o fator Jesus?”,
Ao que a única resposta de clareza e de lisura
É a de que toda busca humana encontra seu fim na Cruz!


A paz que excede todo entendimento,
O amor que é inexplicável,
O lento laborar, mesmo em terra seca e nada afável,
Serão o selo do indizível, inexcedível salvamento!


Sabias disto tudo.
Tinhas teus momentos de sequidão
E sabias que os ataques das trevas do interno submundo
Sempre nos sobrevêm após cada celeste revelação.


Profetizaste que a Igreja da Ásia e da África
Cresceria em vigor e pureza em meio à perseguição,
Enquanto a Igreja do Ocidente cairia enferma e sem tática
Sitiada pelo materialismo, consumismo e mornidão.


Fizeste tua parte, até mais do que tua,
A nossa, que deixamos de fazer.
Até os 79 anos, o homem que saiu da igreja às ruas
Ajudou milhares de vidas a encontrar um novo viver.


Em 27 de abril de 2011, no Texas,
Seu Sedã Infinity bateu de frente com um caminhão.
Tua esposa, muito ferida, por pouco sobreviveu,
Mas tu morreste esfacelado – e assim deixaste este mundo de escuridão.


Tua mulher te seguiu no ano seguinte.
Deixaram 4 filhos, 10 netos, 2 bisnetos.
Mas deixaram uma obra muito maior por conseguinte,
Para viciados, prostitutas, arrependidos, sem-afeto e sem-teto,
Uma missão verdadeira, que não precisa começar
Com aventuras do outro lado do mundo desconhecido,
Mas com a alma sequiosa e miserável a vagar
Nas esquinas do seu bairro de coração endurecido...






terça-feira, 25 de agosto de 2015

BILLY GRAHAM


William, o expansivo menino caipira.
William, na fazenda leiteira da Carolina do Norte.
William, que fugia da Igreja, levando o pai à ira.
William, sem qualquer intelecto especial, perdido e sem norte.


Terminou o Ensino Médio,
Largou uma faculdade no meio.
Seu professor lhe disse que ele nunca seria nada.
No que ele mesmo acreditou por certo tempo.


Mas os sermões de Mordecai Ham,
As tardes no campo com a Bíblia nas mãos,
Os salmos do pastor Davi em sua pobreza bucólica,
Os pecados arrependidos do agora rei Davi
Em sua teodiceia confusa – mas heroica,
O Evangelho do Senhor anunciado às nações,
As viagens de Paulo, as visões de João,
Tudo em seu peito gritava que sua vocação
Seria diferente de tudo que o mundo vira
Em matéria de pregação!


Formou-se em Teologia, foi ordenado.
Casou-se com Ruth, filha de missionários.
Mas o que fazia sua simples diferença
Era como se colocara a serviço e a mandato,
Levando, como arauto do Rei, a dadivosa presença
Do perdão de Deus ao mais vil pecador...


Numa Inglaterra destroçada pela Guerra,
Numa América rebelde e secularizada,
Num Brasil idólatra e eternamente à espera,
Numa África do Sul racista e segregada,
Num Leste Europeu ateu, ditatorial e marxista,
Num Japão milenar, fechado e tradicionalista,
Numa China vermelha, desconfiada e ressentida,
Num planeta em convulsão de humanidade perdida...


A bilhões ele pregou, incansável,
Em estádios, rádios, televisões.
Aconselhou presidentes, sem se meter em política.
Ouvia a todos com amor, sem tecer críticas,
E aproximava extremos que se odiavam
Com seu shalom que até os maiores sábios escutavam.


Era amigo de Martin Luther King,
De Nixon, de Eisenhower, de Clinton,
Até ditadores sanguinários diziam sim
Aos seus pedidos de paz em Pyongyang!


Ele organizou o Pacto de Lausanne,
Em que os evangélicos declararam seus comuns pontos de fé
E deixaram de lado diferenças históricas exangues
Para às correntezas se entretecerem em contramaré.


Discursou aos que choravam
O assassinato de Kennedy,
Os atentados do onze de setembro,
Os soldados mortos no Iraque, no Afeganistão,
Ou seus próprios caminhos estilhaçados em estradas de perdição.


Pregou aos presidiários, aos doentes terminais,
Aos excluídos, aos pobres e aos ricos,
Aos viciados, aos inimigos, aos iguais,
Porque via os homens desgraçados em rumos iníquos
Desesperadamente necessitados de perdão e salvação!


Era só por isso que todos o entendiam,
Porque o que tinha a dizer
Era tão-somente o que Deus tinha a nos trazer.


Suportou decepções, calúnias, difamações.
Perdeu sua bela Ruth, o afago sempre presente.
Sofre de Parkinson, pneumonia, câncer de próstata, osteoporose.
Por isso deixou ao filho Franklin os projetos ainda em mente
P’ra continuar a levar as boas-novas a um mundo em necrose.


Disse, em uma das últimas frases de sua lavra:
“Algum dia vocês ouvirão que Billy Graham está morto.
Não acreditem em uma só palavra!
Terei só mudado de endereço, sem temor:

Estarei desfrutando da comunhão do meu Senhor!”



segunda-feira, 24 de agosto de 2015

MADRE TERESA DE CALCUTÁ


Um amor condicional,
Uma felicidade circunstancial,
E vivemos todos ao nível dos cães!
Poucos servos, muitos capitães!

Co’a simplicidade de um Pai Nosso,
Co’a contemplação de uma Ave Maria,
Co’a convicção de um Credo Niceno,
Ela fez de chagas curadas sua romaria.

Agnes Gonxha Bojaxhiu,
Flor albanesa maltratada
Mais pelo sofrimento alheio que por si,
Pois que nesta nossa vida encarcerada,
Não parece mesmo a ti
Que todos levamos bocados de dor macerada?

Se Deus é Caridade,
Com que direito não o seríamos?
Se Cristo em Sua face de Verdade
Era o único a olhar aos cegos, aos leprosos e publicanos,
Com que prerrogativa nos isolaríamos?

A Santa das sarjetas, a doce avó dos miseráveis,
A enfermeira dos párias intocáveis,
A protetora das meretrizes mal arrancadas das bonecas,
O último rosto visto por moribundos de tez infecta.

Rosto cavado de rugas profundas,
De sol de trabalho, de lágrimas dos outros.
Rosto que chorava por quem ninguém mais chorava,
Mas que não perdia tempo com lamúrias – o que não ajudava,
Incomodava a doce senhora albanesa da Iugoslávia
Que inda menina era noviça de Nossa Senhora de Loreto,
Lá na Irlanda onde estudara o seu perfeito
Caminho que queria seguir desde criança
E raiar a todos sua tenaz esperança
De que um dia
O mundo todo seria
Um único coração a Deus oferecido em alegria!

Mas naquela escola ela se agoniava.
Fez-se enfermeira em Darjeeling,
E neste outro colégio também se incomodava
Com o repouso tranquilo de seus jardins,
Enquanto lá fora os pobres, aos milhares,
Nas calçadas, barracos, lixões, oficinas,
Contorciam-se em fome, doenças, isentos de olhares
De qualquer governo, casta ou Nações Unidas...

Andando pelas favelas de Calcutá,
Ela escolheu servir os que não podiam agradecer-lhe.
Distante de qualquer templo de Vishnu, de qualquer castelo de rajá,
Sem se importar com as moléstias que podiam transmitir-lhe,
Ela andava serena e pronta para acolher, mal tendo meios,
Pois a Divina Providência supre a todos os anseios,
Como Jesus já ensinara no Sermão do Monte
Aos seus embaixadores da paz, águas da Sua fonte...

Fundou a Ordem das Missionárias da Caridade
Perto de um templo de Kali, a deusa da morte.
Erguia albergues, escolas, hospitais pela cidade,
E por todo o mundo com as doações, vindas de Sul e de Norte.

No início, perseguida por muçulmanos e hindus,
Viu estes chamarem-lhe “Deusa da Misericórdia”,
“Face de Deus”, “Mãe dos Pobres”, e quão incomum
Era de fato tal amor nesta Terra hostil e sórdida!

Deram-lhe a Medalha do Senhor do Lótus na Índia,
Deram-lhe o Prêmio Nobel da Paz em Estocolmo,
Deram-lhe a Medalha Presidencial da Liberdade dos Estados Unidos,
E por fim seu carro fúnebre foi o mesmo do Patrono
Da independência da Índia, o Mahatma Gandhi,
Que por ser também uma alma grande,
Como tu foste, sem qualquer alarde,
Foi alvejado a tiros por um covarde...

Dizem que serás canonizada em breve.
Que o Vaticano espera ocasião oportuna
De proclamar ao mundo tua vocação nada leve
Que desempenhaste contra toda má fortuna,
Com singeleza de flor e persistência de felino,
Num mundo que nada sabe de amor tão cristalino.
Como se fosse necessária qualquer prova
De que vieste nos ensinar um pouco do que é o Céu
E nos humilhar em nossa egoísta cova

A qual cavamos, ignotamente, para nosso próprio labéu!




terça-feira, 4 de agosto de 2015

ÓSCAR ROMERO



Era um vilarejo humilde
Em Ciudad Barrios, El Salvador.
Uma terra que leva o nome do Senhor,
Mas onde todo mal incide...


Foi lá que Óscar Arnulfo nasceu,
E apesar de mui pobre, queria ser sacerdote.
Seu esforço a todo o adverso venceu
E ele galgava conquistas com um mote:
“Identificar-se com os pobres, sempre”.


Doutorou-se na Pontifícia Universidade Gregoriana,
Consagrado Arcebispo de San Salvador,
Escolhido justamente por seu conservadorismo que não inflama,
Numa época em que os ânimos prenunciavam o terror.


Mas se sua missão era de dar voz a quem não tinha,
Como calar-se aos desmandos da Junta Revolucionária de Governo,
À miséria cotidiana, renitente e vizinha,
Aos índios, camponeses e crianças alvejados por balas sem termo?


Aos desaparecidos, que chegariam a nove mil?
Aos assassinados, que chegariam a trinta mil?
À direita e à esquerda que se digladiavam em Guerra Civil,
Deixando mortos até nas escadas da igreja em que serviu?


Optou, como cristão, pela não-violência,
Como Martin Luther King, como o Mahatma Gandhi.
Não encontrou apoio no Vaticano, apenas complacência,
Um abraço de João Paulo II, pedidos de cautela e não levante.


Sabia então que estava sozinho com Deus,
Assim como seus amados pobres.
Teria que amar aqueles que ninguém amava como seus,
Sofrer-lhes as chagas, beber de seus odres.


Na homilia de 11 de novembro de 1977,
Inflamado de dor e piedade inconteste,
Clamou em alta voz contra o Perseguidor,
A infligir a suas ovelhas tais agonias
Que lhe não deixava outra possível expressão:
Em nome de Deus e desse povo sofredor,
Cujos lamentos sobem ao céu todos os dias,
Peço-lhes, suplico-lhes, ordeno-lhes: cessem a repressão!”


Quando o cristão se depara com a injustiça,Com a apostasia a Deus, com a tirania e a impiedade,Não há direita ou esquerda, nem ortodoxia mortiça,Não há Teologia da Libertação ou da Prosperidade!Há ação e oração, sal da terra, luz do mundo,Não fermento fariseu,Nem materialismo saduceu,Nem distanciamento essênio do restante dos hebreus,Mas comunhão e compaixão no seu sentido mais profundo!


Seu fim se traçava no coração do ditador,Enquanto torturas inundavam de gritos as delegacias,Enquanto um silêncio pesado se misturava a ondas de pavor,Enquanto inocentes pagavam o preço das ideologias.


Em 24 de março de 1980,Enquanto celebrava a missa,Um atirador de elite se apresenta,Qual Judas convencido de sua troca iníqua,E lhe dispara uma bala ao peito,Certeira no coração do eleitoPelo povo que lhe tinha apreçoE que inda não sabia ser este só o começoDe muito mais mortes e estertores

Numa guerra sempre sem vencedores.Não houve paz na TerraNem no dia de seu enterro:Atiradores, com mente de ódio e guerra,Invadiram o cemitério inteiroE dispararam contra aqueles a prantearPara lhes dar mais motivos para chorar!


Uma onda de protestos se levantou por toda parte.A ONU declarou o dia desse ato desumanoO Dia Internacional pelo Direito à Verdade
Acerca das Graves Violações dos Direitos Humanos.

A Abadia de Westminster, na Inglaterra,Mantém uma Galeria dos Mártires do Século XX,E ali, entre outras esculturas de face terna ou austera,Repousa a sua, como mais um lembrete triste,Ao lado de Dietrich Bonhoeffer, Martin Luther King,
Madre Elisabeth da Rússia, São Maximiliano Kolbe,E outros cuja memória não se extingueAo contrário da de seus algozes.


Quiseram calar-lhe a voz.Não o conseguiram.Sua beatificação foi aprovada por decreto do Papa Francisco,Que como se sabe, também enfrentou ditadores na Argentina,E optou pelos pobres, como o outro Francisco,Que há oito séculos também fez tremer sua Igreja em ruínas...


Portanto, quando vires teu mundo em confusão,Os fracos trucidados sem qualquer misericórdia,Lembra do teu Mestre que tanta atençãoDispensava aos exilados deste deserto de discórdia.