segunda-feira, 8 de junho de 2015

MAXIMILIANO KOLBE



Nascido Raimundo, humilde polonês,
Apropriadamente, escolheu os franciscanos.
Ordenado sacerdote e retornando ao lar,
Cuidava dos seminaristas e dos diocesanos.


Viu seu pai ser enforcado por comunistas russos.
Viu sua mãe retirar-se para um convento beneditino.
Descobriu-se tuberculoso em espasmos abruptos.
E em sonho recebeu a coroa de seu destino.


Graduado e doutorado em Roma,
Decidiu dedicar-se como São Francisco,
Em amor, em missões, monge fora da redoma,
Em sacrifício até o fim, crescendo em Cristo.


Voltou à sua amada Cracóvia, quando chegaram os nazistas.
Preso por duas vezes, sua cerviz não se dobrava.
Opondo-se ao extermínio dos eslavos, dos judeus, dos antagonistas,
Sua fé, sua integridade, era o que tanto incomodava...


Por fim, enviaram-no a Auschwitz, o matadouro,
Onde se faria mártir em seu último heroísmo. 
Foi no macabro e invernal logradouro
Que em silêncio resistia ao vil despotismo.


Depois da fuga de um prisioneiro,
Outros dez foram sorteados para pagar
Com a vida já não-vida e já sem meio,
Por fome e por nudez até seu limiar.


Francisco Gajowniczek, pai de família,
Desesperou-se por ser um dos escolhidos.
Padre Maximiliano, apiedando-se de suas filhas,
Ofereceu-se em seu lugar, vitorioso e vencido.


Num quarto escuro,
Por duas semanas,
Olhando pro mesmo muro,
Sobreviveu sem comida,
Sem fogueira,
Sem chamas.
Ele e mais três,
Minguando a vida,
Cada hora à beira
Da morte que reclama
Corpos à guisa de rês
Para o Hades insaciável e impuro.


Como ele não morria
E queriam desocupar o lugar,
Não para interromper-lhe a agonia
Mas para o reduto limpar,
Deram-lhe uma injeção letal
E jogaram-no no crematório,
Como se se tratasse de carcaça animal
E ficasse impune tal barbárie de sanatório!


Assim terminaram os dias
Do padre que amava estudar árvores,
Catalogar flores, preparar litanias,
E que se fez em alvores
Dos “santos que conheceram o inferno”:
Ele, Edith Stein, o Pastor Bonhoeffer,
Servos sofredores do Sempiterno.


Quando, quarenta anos depois, diante dos ouvintes,
Seu compatriota João Paulo II o canonizava,
Chamou-lhe “padroeiro do nosso difícil século XX”,
E sabia de quantas lutas a cristandade ainda aguardava...


Por isso, quando o mundo lhe pesar em oposição,
Lembre-se o quanto mais atormentou irmãos seus,
Que lutaram contra o Maligno em mil faces de perseguição

E que ainda não mudou em sua ira contra Deus!






















EDITH STEIN



Lágrimas sobre rosas pálidas
E arames farpados.
Estrelas de Davi tal crisálidas
De onde nascia a morte dos condenados.


Vida concentrada em guetos, em campos.
Numa Europa que já perdera seus encantos,
Coberta de cinzas, de ossos, de gritos,
Em que se exilavam anjos e espíritos.


Edith, nascida no Dia do Perdão:
Yom Kippur que os homens desaprenderam.
Edith, que ousava portar um coração
Na terra do Shoá que os demônios reviveram.


Edith, não mais judia, era freira carmelita,
Escreveu sobre João da Cruz e Teresa D’Ávila:
“A Ciência da Cruz”, sua obra magna de especialista,
Alia alma sequiosa com uma mente impávida.


Edith, a segunda mulher a ter doutorado na Alemanha,
Era discípula de Husserl e da fenomenologia,
Dava conferências sobre Tomás de Aquino e sobre a cizânia
Dos partidos políticos numa República de Weimar em agonia.


Falava sobre a questão da mulher num mundo patriarcal,
Falava contra a ameaça que, sorrateira, ganhava corpo.
E o mundo, que se fez de cego e imparcial,
Pagaria um preço jamais pago por tal engodo.


Quando o Partido Nazista ascendeu, ela fugiu.
Buscou abrigo na Holanda que a tantos protegera
Desde tempos medievais, em que a Inquisição insistiu
Em violar a consciência dos homens e assim perdera
O crédito de instituição do amor e da fé,
Tornando a Esposa de Cristo em mais uma vil ré.


Mas a Guerra começou,
Gritos de Münch, Guernicas de Picasso,
A guerra começou!
Às armas de Hemingway, morte de Lorca a balaço,
A guerra a tudo tomou!


Tomou a Áustria, a Polônia, a Dinamarca,
Chegou à Holanda e todos os amados de Edith levou.
Cravou-lhe espinhos, sangrou-lhe o peito, traçou-lhe a marca,
E por fim a própria Edith buscou,
Com seus mantos de Tânatos e suásticas arianas:
Vingança de Wotan a São Bonifácio da Germânia...


Auschwitz, entre milhares de milhares,
Também recebeu seu corpo frágil e barbarizado.
Foi lá que, em seus estertores e pesares,
Foi testada sua fé como holocausto queimado.


“Aconteça o que acontecer, estou preparada,
Jesus está aqui conosco”, dissera em firmeza,
Três dias antes de sua morte martirizada,
Em câmaras de gás de inescapável crueza.


Mais uma das almas de brilho na escuridão,
Que um mundo em pavores não soube acalentar.
Nefesh que sobe a Elohim Senhor da Criação
Por Seu Filho amado, desfigurado por nos amar,
Testemunhado pelo Espírito,
Em gemidos inexprimíveis a clamar.


Santa Teresa Benedita da Cruz,
Foi o nome que lhe deu João Paulo II,
Quando a canonizou, fazendo-lhe jus
À vida oferecida à mão do verdugo
Sabendo que o sacrifício de aroma suave
Sobe a Iavé como oração sem entraves
E adentra sem véu o Tabernáculo do Céu!





DIETRICH BONHOEFFER



Teus modos eram elitistas.
Afinal, nasceste na elite de Breslau,
Filho de rico psicanalista,
E, como tal,
Cresceste amando livros, Schumann e Beethoven,
E antes que os anos de chumbo tombem,
Teus retratos só continham risos.

Escolheu estudar Teologia.
A priori, porque teus pendores eram para humanidades.
O divino só se lhe afiguraria mais claro bem mais tarde,
Quando, de forma mais estridente, conhecerias a Verdade.

Doutorado em Berlim, mais um ano em Nova Iorque,
Estudos estafantes, de sua lavra saíam livros brilhantes
Sobre o Discipulado, a Ética, a Vida em Comunhão,
Agradando seguidores e também os diletantes.

Havia em tuas linhas a ortodoxia de Karl Barth,
Mas com uma poesia de Novalis, de Heine,
Uma musicalidade de Haydn ou de Bach,
Os meandros da linguagem tal como Wittgenstein.

Buscavas o palatável e o atual
Do que um cristão deve saber,
Sem jamais perder de vista a fé e o conteúdo revelacional,
Mas acima de tudo: o que um cristão deve fazer!

Encontravas-te numa Alemanha tomada pelo nazismo,
Em que se penduravam suásticas nos altares das igrejas.
O Führer se arrogava o direito de ser dono das consciências,
O Redentor dos Árias em seu satânico cinismo!

Ó pastor luterano que amavas o teu povo!
Não poderias ter nascido em momento mais triste!
Que a águia de Bismarck, de Otto, buscava seu renovo
Devorando hebreus, eslavos, ciganos e bolcheviques!

Epopeias de Wagner serviam de fundo e de estafe
Ao mais vil despertar das bestas!
As ondinas do Reno cederam lugar a aviões da Luftwaffe...
Nem Nietzsche ou Schopenhauer engoliriam tais funestas!

Tu ajudavas judeus a fugir para a Suíça.
Tu participaste da Declaração de Bremen,
Da Igreja Confessante, de todos aqueles que não se curvaram à vil cobiça
Ou ao ódio xenófobo ou à covardia dos que tremem.

Deixaste esperando tua noiva tão mais jovem,
Que se faria viúva antes de ser esposa.
Deixaste um futuro confortável-brilhante-de-respeitável-homem
Para ter o teu lugar na História belicosa:

Pastor? Mártir? Espião? Líder da Resistência?
Quem eras de fato se tinhas mil faces,
Quando se fazia necessário lutar com sapiência
Ou mesmo com armas, atentados ou disfarces?

“Jesus Cristo, e não homem algum ou Estado
É o nosso único Salvador” !
Foi isto que declaraste em enorme brado
Num tempo em que tal fala era sentença de terror!

E por isso foste espancado na saída da pregação.
E por isso foste levado de prisão em prisão.
Até que pouco antes dos Aliados chegarem co’a libertação,
Enforcaram-te em Flössenburg, campo de concentração.

Junto a ti, também o foi teu irmão Klaus,
Teus dois cunhados, e milhões de anônimos...
Riam-se sarcasticamente os homens maus
Que em breve também se enforcariam em manicômios...

Hitler se suicidaria poucos dias depois.
De sua mulher Eva Braun, o mesmo se diga,
E de Goebbels, com toda a sua família, e pois,
A própria Berlim caiu em mãos inimigas...

Sitiada, derrubada, julgada em Nuremberg.
Dividida na Guerra Fria, com um muro entre famílias.
Que resta do orgulho, quando se perde?
Em que caminho continuar, quando se apagam todas as trilhas?

O mundo que viria depois não seria tão melhor assim...
Filmando uma história de anjos na mesma cidade,
O cineasta Wim Wenders, com um olhar de serafim,
Muitos anos depois, mas jamais esquecida a atrocidade,
Perguntaria através dum personagem, um velho pertinaz:
“Por que os homens só fazem epopeias sobre a guerra,
[ e nunca sobre a paz?”