Não tenho medo de pedradas
e solidões.
Não vos esqueçais de que
fui moldado por tempestades
Como as falésias abissais
De encontro às amplidões.
As que servem de abrigo a
albatrozes macambúzios
E a gaivotas
sanguinolentas.
A elefantes-marinhos ressentidos
E ostras lutulentas.
Carrego comigo a tristeza
dos sargaços,
Os marulhos dos cansaços,
A ausência de abraços
Que o sal já não pode
curar.
Sou pedra de sal.
Pedra do tempo.
Pedra de quartzo.
Pedra de cal.
Pedra
Com a maldição do espinho,
A memória mineral que
resiste
A toda erosão do caminho.
Pedra que já não pode
deixar de ser pedra.
Onda que incansavelmente
se forma e se desfaz.
Redemoinho que cava o
miolo da terra.
Água que se bebe e não
satisfaz.
Água
Vociferando na falésia
Estrondando retumbando
destruindo
Água
Contra si mesma no vazio
rugindo.