“Que a fé 'tá na
mulher
A fé 'tá na cobra coral
Oh, oh
Num pedaço de pão.
A fé 'tá na maré
Na lâmina de um punhal
Oh, oh
Na luz, na escuridão.
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá (olêlê)”
Gilberto Gil – “Andar com Fé”
“Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se
esperam, e a prova das coisas que não se veem”. (Hb 11.1)
Apanhar
um pão de Santo Antônio,
Um
cão doente benzido por São Francisco,
Um
carro velho benzido por São Cristóvão,
Uma
rosa de Santa Rita,
Uma
rosa de Santa Teresinha,
Uma
chave de São Pedro e São Cipriano,
Um
vaso de espadas de São Jorge,
Um
saco de balas de São Cosme e Damião,
Um
acarajé de Iansã,
Uma
pipoca de Omolu,
Uma
pulseira do Senhor do Bonfim,
Uma
pomba branca do Espírito Santo,
Uma
pomba branca do opaxorô de Oxalá,
Um
tridente de Exu,
Um
tridente de Shiva,
Uma
pena de pavão de Krishna,
Uma
moeda de Lakshmi,
Uma
presa de elefante de Ganesha,
Uma
maçã de Idunn ou de Afrodite,
Uma
toalha suada do apóstolo Valdemiro Santiago,
Uma
porrada de paletó do pastor Benny Hinn,
Um
gato da sorte japonês,
Um
rosário católico,
Um
japamala budista,
Uma
roda de orações tibetana,
Um
copo d’água magnetizado pelos espíritos evoluídos;
Pendurar
pedidos em papeis no Akimatsuri
Ou
despachá-los na barquinha com espelhos de Iemanjá;
Pendurar
um quadro do anjo da guarda sobre a cama;
Acender
uma vela pra Chaguinhas na Igreja das Almas dos Enforcados na Liberdade,
Mais
uma pras 13 almas do Edifício Joelma no Cemitério da Vila Alpina;
Dançar
na missa conga de São Benedito no Lardo do Paissandu;
Trazer
ao pescoço uma figa, um trevo, um olho grego e uma carranca,
Uma
estrela de Davi, um crucifixo e um hilal;
Mobiliar
a casa de acordo com o Feng Shui;
Equilibrar
no corpo o yin e o yang;
Fumar
maconha ouvindo reggae com jamaicanos,
Trajando
vermelho, amarelo e verde,
Cultivando
o leão interior, vegetariano,
Cultuando
uma extensa linha de reis etíopes;
Tomar
a ayahuasca, aspirar o rapé
Com
xamãs urbanos, fechando os olhos
Pra
ver índios, araras e constelações caleidoscópicas
Mergulhado
em sensação orgástica;
Devorar
seres humanos cada vez mais jovens em orgias,
Devorar
comidas cada vez mais caras em banquetes,
Pra
sentir transcender todo poder humano;
Chicotear-se
na Ashura, na Sexta-Feira Santa;
Pintar
ovos na Páscoa;
Emular
os mortos-vivos atormentados no Halloween,
Conversar
com seus túmulos no Dia de Finados,
Oferecer-lhes
missas votivas no sétimo dia de sua morte
E
no primeiro mês e no primeiro ano,
Guardar
suas fotografias para que seus sorrisos não se apaguem das mentes dos vivos;
Tecer
guirlandas no Advento do Natal;
Pensar
positivo, bater na madeira três vezes, acordar com o pé direito, ler livros de
coaching e autoajuda;
Desprender-se
paulatinamente dos bens materiais, da carne, do ego;
Gastar
um fim de semana no voluntariado;
Ver
todas as eras como um grande desfile de Carnaval;
Escalar
cada um dos ramos da árvore das dez sefirot da Cabala,
Dos
trinta éons do neoplatonismo, dos degraus da escada de Jacó;
E
na dúvida do sentido da vida e no leito da espera da morte,
Tu
finalmente verás a Deus?