sexta-feira, 6 de maio de 2011

Novas Demandas da Educação

As reivindicações humanas, ao longo dos séculos, constituíram sempre fenômeno crescente e caracterizador da própria identidade, no sentido de configurar o homem como ser histórico e digno, além de físico, psíquico e social.

Nessa interminável luta, emergem os chamados “direitos humanos de primeira geração”, consubstanciados nos direitos e garantias individuais. Assim o acesso à Justiça, o direito de ser ouvido em sua versão dos fatos e de apresentar defesa em procedimentos judiciais (contraditório e ampla defesa), a livre iniciativa econômica (laissez-faire), a liberdade de opinião, de expressão, de credo religioso, o direito de votar e ser votado. Tais prerrogativas já encontram seu nascedouro entre os gregos e os romanos antigos, experimentam notável incremento nos átrios do cristianismo e da tradição jurídico-política inglesa medieval, e encontram sua cristalização plena nos dois eventos históricos que marcaram o início da Idade Contemporânea: a Revolução Francesa e a Independência Norte-Americana.

No entanto, é fato notório que a mera declaração formal de igualdade entre os homens não foi o suficiente para trazer em seu encalço as duas sentenças restantes do lema revolucionário francês: igualdade e fraternidade. Pelo contrário, o domínio da burguesia ascendente – tornada todo-poderosa durante a Revolução Industrial e justificada pela propaganda liberalista – gerou como consequência indesejada – ou talvez até mesmo desejada – uma enorme população de miseráveis, desprovidos de renda, consciência e conhecimento.

As prédicas de Marx, Engels, Proudhon e outros autores do século XIX – e de Rosseau antes deles – alertaram para o futuro e inevitável cataclismo: a revolução do proletariado, a qual instalaria uma sangrenta ditadura da restauração da igualdade, igualdade esta só vista nas comunidades coletoras-caçadoras primitivas.

O modelo, como é notório, foi aplicado com reservas no chamado socialismo real da União Soviética, da China, de Cuba, dentre outros. No entanto, observa-se que o maior avanço no sentido dos chamados “direitos sociais” ou “direitos humanos de segunda geração” deu-se a partir da reação concessiva dos países capitalistas a fim de não sofrerem mais revoluções e greves em seus próprios territórios. A Grande Depressão de 1929 e o sistema econômico de grande intervenção estatal na economia desenvolvido por John Maynard Keynes inauguraram o chamado Welfare State ou "Estado do Bem-Estar Social": com punhos de ferro, líderes nacionais nada democráticos implantaram vertical e unilateralmente uma legislação trabalhista nunca antes vista, e, no seu esteio, a universalização do acesso à saúde e educação públicas, à assistência e à previdência sociais.

É neste contexto que as mesmas políticas atingem o Brasil, já imerso em sua nascente industrialização substitutiva da antiga economia agrária de larga escala.

A Segunda Guerra Mundial – e o consequente ódio aos regimes totalitários impresso em todos os povos ocidentais – fez ressurgir os anseios pela democracia, e, com ela, o maior acesso aos direitos já alcançados formalmente, além de novos direitos agora denominados “coletivos e difusos”, posto que pertencentes a uma massa indivisa de população, incluindo-se aí o meio-ambiente saudável, o patrimônio histórico e artístico, o desenvolvimento econômico sustentável, as prerrogativas do consumidor consciente, o direito à paz mundial etc.

Inequivocamente, os cidadãos nascidos sob estas influências não mais se contentariam em receber um ensino de modelo mecanicista – meio taylorista e meio burocrático – que desumaniza, rotiniza, atomiza e retira o senso crítico.

As empresas, por seu turno, implantando mudanças de paradigma como a gestão participativa, a delegação de poderes (empowerment), o achatamento da estrutura (downsizing) e a eficiência-eficácia como binômio inseparável, não mais estavam interessadas em mão-de-obra pouco criativa, insegura e passiva, que fosse incapaz de se adaptar a um mercado em crescente competição e inovação.

É exatamente neste contexto que surge a necessidade premente do novo papel do professor, tanto no ensino fundamental e médio, quanto no ensino técnico e universitário: um profissional capaz de congregar em si diferentes aptidões e adaptações, pronto a se tornar autodidata, desafiador, conhecedor das novas tendências do mercado, intermediário do conhecimento e constantemente capacitado, dotado de conhecimentos profundos e técnicos em sua área de docência, de forma conjunta a noções elementares de psicologia, pedagogia, gestão e, por que não dizer, política e cidadania.

Uma sociedade extremamente populosa, mais exigente e mais pressionada pelas urgências ditadas pelo capitalismo competitivo e pela onipresença da informação e da tecnologia, não poderá exigir menos do educador – esse sim conceito mais correto que o de professor (aquele que professa palavras publicamente sem ser interrompido, e o faz diretamente ao aluno – “alumni”, “alumnu": “o desprovido de luz”, “a criança por se criar” – a quem nada resta senão seguir o ensino do mestre em seu caminho de trevas e ignorância).

Nada menos se exige desse profissional, nada a não ser que se torne o intermediário extremamente capacitado a mostrar as fontes, as perspectivas e o desenvolvimento sem obstáculos, sem se configurar ele mesmo em obstáculo, no cenário de uma sociedade pluralista e tecnocrática, sem contudo deixar de transmitir o senso ético e responsável, que em última instância significa nada mais do que ser humano


      

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