Já
os homens pleistocenos
Buscavam
ali refúgio,
Deixando
impressos aos milênios
Seus
mamutes, corças, refugos.
Na
caverna de Platão temos a sombra
E
a verdade está lá fora e acima.
Na
caverna de Orfeu temos o arrependimento
Que
olha para trás e perde Eurídice para sempre.
Na
caverna de Remo e de Rômulo temos a loba
E
o leite e o sacrifício e as lupercais.
Na
caverna de Amaterasu,
Ela
é o sol que se esconde
Depois
que seu irmão – tempestade e mar,
Susanoo,
o covarde,
Joga
um cavalo morto sobre o seu jantar.
Na
caverna do Buda,
Mara,
a ilusão,
Depois
de derrotado debaixo da figueira,
Sem
a costumeira face carrancuda,
Em
posição de lótus sobre a pobre esteira,
Lança
sua última tentação:
Cansado
da penumbra lisonjeira,
Quer
trocar de lugar com a iluminação!
Na
caverna de Davi temos o medo
E
o refúgio e a lira e a oração angustiada
E
os salmos se desenrolando
Como
uma teia noturna de titiwais[1]
E
lá fora a ira dos exércitos de Saul.
Jonas,
em meio às ondas do mar,
Encontrou
sua caverna de carne
No
esôfago de um peixe justiceiro,
Onde
se martirizava pelo teimar
Tal
Pinóquio esperando seu velho carpinteiro.
Na
caverna da Natividade temos o Menino,
A
Luz do mundo a dormitar na manjedoura,
Em
pequeno facho de luz de humildade
Debaixo
da estrela peregrina,
E lá
fora as trevas assassinas de Herodes
E
as trevas da hora nona que viriam
–
E a outra caverna futura –
Cuja
pedra de entrada seria removida pela Vida!
Na
caverna de São Jerônimo temos o velho
Que
buscava em sonhos e pergaminhos
Aquela
mesma Luz que lhe salvara,
E
lá fora o diabo e as dançarinas de Roma
E
o leão de pata machucada.
Na
caverna de Maomé temos o susto
Seguido
da poesia,
E
o anjo Jibril que lhe sobe ao peito
E
lhe ordena recitar,
E
o pavor e os versos que lhe saem em torrente
E
lá fora o vil comércio dos coraixitas
(os
que nunca ouvem).
Na
caverna de Siegfried temos o tesouro ocultado
E
o sulfuroso dragão que o guarda, atormentado,
E
o seu sangue que banha o heroi transformado,
E
lá fora a ambição que lhe quer roubado.
Encontrariam
o tesouro assim
Jasão,
Ali Babá, Alladin?
Na
caverna da Psicanálise temos o útero materno
E
a tumba do homem a renascer,
Descendo
as escadas do inconsciente,
Subindo
as encostas do verdadeiro Ser.
Não
sei que caverna me aguarda,
Mas
quando chegar a essa porta do Hades,
Caminho
de pedras,
Labirinto
de mares,
Quero
sorver afoito do vinho
Do
Graal que me cura sozinho.
[1] Nome
maori para e espécie Arachnocampa
luminosa, verme luminescente endêmico da Nova Zelândia, que adere ao teto
das cavernas, dando-lhe uma aparência de ceu estrelado.
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