“Her green plastic watering can
For her fake Chinese rubber plant
In the fake plastic earth…”
For her fake Chinese rubber plant
In the fake plastic earth…”
RADIOHEAD
chego
a sentir-me vivo e ancestral,
desejando
o sumo da uva, da maçã, da atemoia.
Melões
maduros, melancias calejadas e kiwis cabeludos
são
sonhos eróticos na mercearia.
Chego
a desejar enraizar-me como as batatas e as mandiocas
e
enterrar minha cabeça no chão como o avestruz de pelúcia
[da
meiga seção infanto-juvenil.
penduradas
liricamente aos fregueses atentos
lembram-me
das bancas de jornais – açougues humanos –
e
me comovem as bocas abertas arrebentadas do cação e da tilápia,
o
leitãozinho pendente no pau-de-arara,
as
galinhas decapitadas e as vacas esquartejadas.
Ah,
presuntos, salames e salsichas,
Com
suas porcarias moídas
Como
uma antropofagia cultural!
Aqui
os farináceos
Acolá
os cereais matinais
E
voltamos aos galináceos:
Eu
quero um espeto de corações!
Meu
carrinho de supermercado precisa de itens
como
eu preciso forrar-me
de
serragem e de palha.
Os
fornos e seus odores sedutores
lançam-nos
o pão nosso de cada dia
que
cheiram à ilusão de lar.
as
margarinas, os nuggets e outros
quitutes
em
estado latente de preguiça
para
quem gosta de encher linguiça.
óleo
de bebê, papel higiênico, veneno arsênico, hidratante corporal,
que
há uma tênue e perene manutenção
daquilo
que não se pode manter.
do
que eu vi na televisão
e
nas pop-ups das redes sociais.
O
que era da humanidade no passado
antes
do advento do Atacadão?
Estão
anunciando
ofertas,
crediário, saldão
e
mais um stand de degustação.
Eu
quero bradar ao mundo o Código de Defesa do Consumidor!
Eu
quero valium, paracetamol, para matar a dor!
Eu
quero ser resistente às intempéries e aos grudentos
como
teflon!
Eu
quero matar corajosamente
como
detefon!
Avanço
pelos corredores
numa
psicose fremente.
de
acrílico, poliéster e tactel.
Eu
nunca imaginei ser possível morrer de fome
com
a cara emborcada num prato de mel.