segunda-feira, 8 de junho de 2015

DIETRICH BONHOEFFER



Teus modos eram elitistas.
Afinal, nasceste na elite de Breslau,
Filho de rico psicanalista,
E, como tal,
Cresceste amando livros, Schumann e Beethoven,
E antes que os anos de chumbo tombem,
Teus retratos só continham risos.

Escolheu estudar Teologia.
A priori, porque teus pendores eram para humanidades.
O divino só se lhe afiguraria mais claro bem mais tarde,
Quando, de forma mais estridente, conhecerias a Verdade.

Doutorado em Berlim, mais um ano em Nova Iorque,
Estudos estafantes, de sua lavra saíam livros brilhantes
Sobre o Discipulado, a Ética, a Vida em Comunhão,
Agradando seguidores e também os diletantes.

Havia em tuas linhas a ortodoxia de Karl Barth,
Mas com uma poesia de Novalis, de Heine,
Uma musicalidade de Haydn ou de Bach,
Os meandros da linguagem tal como Wittgenstein.

Buscavas o palatável e o atual
Do que um cristão deve saber,
Sem jamais perder de vista a fé e o conteúdo revelacional,
Mas acima de tudo: o que um cristão deve fazer!

Encontravas-te numa Alemanha tomada pelo nazismo,
Em que se penduravam suásticas nos altares das igrejas.
O Führer se arrogava o direito de ser dono das consciências,
O Redentor dos Árias em seu satânico cinismo!

Ó pastor luterano que amavas o teu povo!
Não poderias ter nascido em momento mais triste!
Que a águia de Bismarck, de Otto, buscava seu renovo
Devorando hebreus, eslavos, ciganos e bolcheviques!

Epopeias de Wagner serviam de fundo e de estafe
Ao mais vil despertar das bestas!
As ondinas do Reno cederam lugar a aviões da Luftwaffe...
Nem Nietzsche ou Schopenhauer engoliriam tais funestas!

Tu ajudavas judeus a fugir para a Suíça.
Tu participaste da Declaração de Bremen,
Da Igreja Confessante, de todos aqueles que não se curvaram à vil cobiça
Ou ao ódio xenófobo ou à covardia dos que tremem.

Deixaste esperando tua noiva tão mais jovem,
Que se faria viúva antes de ser esposa.
Deixaste um futuro confortável-brilhante-de-respeitável-homem
Para ter o teu lugar na História belicosa:

Pastor? Mártir? Espião? Líder da Resistência?
Quem eras de fato se tinhas mil faces,
Quando se fazia necessário lutar com sapiência
Ou mesmo com armas, atentados ou disfarces?

“Jesus Cristo, e não homem algum ou Estado
É o nosso único Salvador” !
Foi isto que declaraste em enorme brado
Num tempo em que tal fala era sentença de terror!

E por isso foste espancado na saída da pregação.
E por isso foste levado de prisão em prisão.
Até que pouco antes dos Aliados chegarem co’a libertação,
Enforcaram-te em Flössenburg, campo de concentração.

Junto a ti, também o foi teu irmão Klaus,
Teus dois cunhados, e milhões de anônimos...
Riam-se sarcasticamente os homens maus
Que em breve também se enforcariam em manicômios...

Hitler se suicidaria poucos dias depois.
De sua mulher Eva Braun, o mesmo se diga,
E de Goebbels, com toda a sua família, e pois,
A própria Berlim caiu em mãos inimigas...

Sitiada, derrubada, julgada em Nuremberg.
Dividida na Guerra Fria, com um muro entre famílias.
Que resta do orgulho, quando se perde?
Em que caminho continuar, quando se apagam todas as trilhas?

O mundo que viria depois não seria tão melhor assim...
Filmando uma história de anjos na mesma cidade,
O cineasta Wim Wenders, com um olhar de serafim,
Muitos anos depois, mas jamais esquecida a atrocidade,
Perguntaria através dum personagem, um velho pertinaz:
“Por que os homens só fazem epopeias sobre a guerra,
[ e nunca sobre a paz?”






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