Lágrimas
sobre rosas pálidas
E
arames farpados.
Estrelas
de Davi tal crisálidas
De
onde nascia a morte dos condenados.
Vida
concentrada em guetos, em campos.
Numa
Europa que já perdera seus encantos,
Coberta
de cinzas, de ossos, de gritos,
Em
que se exilavam anjos e espíritos.
Edith,
nascida no Dia do Perdão:
Yom Kippur que os homens desaprenderam.
Edith,
que ousava portar um coração
Na
terra do Shoá que os demônios reviveram.
Edith,
não mais judia, era freira carmelita,
Escreveu
sobre João da Cruz e Teresa D’Ávila:
“A
Ciência da Cruz”, sua obra magna de especialista,
Alia
alma sequiosa com uma mente impávida.
Edith,
a segunda mulher a ter doutorado na Alemanha,
Era
discípula de Husserl e da fenomenologia,
Dava
conferências sobre Tomás de Aquino e sobre a cizânia
Dos
partidos políticos numa República de Weimar em agonia.
Falava
sobre a questão da mulher num mundo patriarcal,
Falava
contra a ameaça que, sorrateira, ganhava corpo.
E
o mundo, que se fez de cego e imparcial,
Pagaria
um preço jamais pago por tal engodo.
Quando
o Partido Nazista ascendeu, ela fugiu.
Buscou
abrigo na Holanda que a tantos protegera
Desde
tempos medievais, em que a Inquisição insistiu
Em
violar a consciência dos homens e assim perdera
O
crédito de instituição do amor e da fé,
Tornando
a Esposa de Cristo em mais uma vil ré.
Mas
a Guerra começou,
Gritos
de Münch, Guernicas de Picasso,
A
guerra começou!
Às
armas de Hemingway, morte de Lorca a balaço,
A
guerra a tudo tomou!
Tomou
a Áustria, a Polônia, a Dinamarca,
Chegou
à Holanda e todos os amados de Edith levou.
Cravou-lhe
espinhos, sangrou-lhe o peito, traçou-lhe a marca,
E
por fim a própria Edith buscou,
Com
seus mantos de Tânatos e suásticas arianas:
Vingança
de Wotan a São Bonifácio da Germânia...
Auschwitz,
entre milhares de milhares,
Também
recebeu seu corpo frágil e barbarizado.
Foi
lá que, em seus estertores e pesares,
Foi
testada sua fé como holocausto queimado.
“Aconteça o que acontecer, estou
preparada,
Jesus está aqui conosco”, dissera em firmeza,
Três
dias antes de sua morte martirizada,
Em
câmaras de gás de inescapável crueza.
Mais
uma das almas de brilho na escuridão,
Que
um mundo em pavores não soube acalentar.
Nefesh que sobe a Elohim Senhor da
Criação
Por
Seu Filho amado, desfigurado por nos amar,
Testemunhado
pelo Espírito,
Em
gemidos inexprimíveis a clamar.
Santa
Teresa Benedita da Cruz,
Foi
o nome que lhe deu João Paulo II,
Quando
a canonizou, fazendo-lhe jus
À
vida oferecida à mão do verdugo
Sabendo
que o sacrifício de aroma suave
Sobe
a Iavé como oração sem entraves
E
adentra sem véu o Tabernáculo do Céu!
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