segunda-feira, 8 de junho de 2015

EDITH STEIN



Lágrimas sobre rosas pálidas
E arames farpados.
Estrelas de Davi tal crisálidas
De onde nascia a morte dos condenados.


Vida concentrada em guetos, em campos.
Numa Europa que já perdera seus encantos,
Coberta de cinzas, de ossos, de gritos,
Em que se exilavam anjos e espíritos.


Edith, nascida no Dia do Perdão:
Yom Kippur que os homens desaprenderam.
Edith, que ousava portar um coração
Na terra do Shoá que os demônios reviveram.


Edith, não mais judia, era freira carmelita,
Escreveu sobre João da Cruz e Teresa D’Ávila:
“A Ciência da Cruz”, sua obra magna de especialista,
Alia alma sequiosa com uma mente impávida.


Edith, a segunda mulher a ter doutorado na Alemanha,
Era discípula de Husserl e da fenomenologia,
Dava conferências sobre Tomás de Aquino e sobre a cizânia
Dos partidos políticos numa República de Weimar em agonia.


Falava sobre a questão da mulher num mundo patriarcal,
Falava contra a ameaça que, sorrateira, ganhava corpo.
E o mundo, que se fez de cego e imparcial,
Pagaria um preço jamais pago por tal engodo.


Quando o Partido Nazista ascendeu, ela fugiu.
Buscou abrigo na Holanda que a tantos protegera
Desde tempos medievais, em que a Inquisição insistiu
Em violar a consciência dos homens e assim perdera
O crédito de instituição do amor e da fé,
Tornando a Esposa de Cristo em mais uma vil ré.


Mas a Guerra começou,
Gritos de Münch, Guernicas de Picasso,
A guerra começou!
Às armas de Hemingway, morte de Lorca a balaço,
A guerra a tudo tomou!


Tomou a Áustria, a Polônia, a Dinamarca,
Chegou à Holanda e todos os amados de Edith levou.
Cravou-lhe espinhos, sangrou-lhe o peito, traçou-lhe a marca,
E por fim a própria Edith buscou,
Com seus mantos de Tânatos e suásticas arianas:
Vingança de Wotan a São Bonifácio da Germânia...


Auschwitz, entre milhares de milhares,
Também recebeu seu corpo frágil e barbarizado.
Foi lá que, em seus estertores e pesares,
Foi testada sua fé como holocausto queimado.


“Aconteça o que acontecer, estou preparada,
Jesus está aqui conosco”, dissera em firmeza,
Três dias antes de sua morte martirizada,
Em câmaras de gás de inescapável crueza.


Mais uma das almas de brilho na escuridão,
Que um mundo em pavores não soube acalentar.
Nefesh que sobe a Elohim Senhor da Criação
Por Seu Filho amado, desfigurado por nos amar,
Testemunhado pelo Espírito,
Em gemidos inexprimíveis a clamar.


Santa Teresa Benedita da Cruz,
Foi o nome que lhe deu João Paulo II,
Quando a canonizou, fazendo-lhe jus
À vida oferecida à mão do verdugo
Sabendo que o sacrifício de aroma suave
Sobe a Iavé como oração sem entraves
E adentra sem véu o Tabernáculo do Céu!





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