Angelo Giuseppe Roncalli,
Nasceu com nome de anjo,
Com nome do pai terreno de Cristo.
E por mais que dele se fale,
Com admiração e espanto,
De como era afável e bem quisto,
Não se faz jus à sua humildade,
Ao seu afável senso de humor,
Seu espírito conciliador
E sua sobriedade.
Entre os camponeses de Sotto Il Monte,
Seu pai vira que não levava jeito
com arado:
Queria era estudar e ir adiante
Do que seu pobre vilarejo lhe
tinha preparado.
Foi enviado ao pároco local,
Depois ao Seminário.
Sempre brilhante, sempre jovial,
Fez-se um culto e obediente
vigário.
Professor dos seminaristas,
secretário do bispo,
Uma promissora esperança!
Capelão na Primeira Grande
Guerra, Arcebispo,
Diplomata na Bulgária, na
Turquia, na Grécia, na França...
Dialogando com ortodoxos,
salvando judeus do extermínio,
Por fim cardeal e Patriarca de
Veneza,
Até ser eleito, num angustiado
escrutínio,
Um novo Papa em um mundo de
incerteza...
Quando todos esperavam que sua
velhice lhe curvasse,
Mesmo com o estômago a lhe arder
em tumores,
E com a agenda sobrecarregada de
conflitos e impasses
Que resolvia com doçura, afogando
rancores,
Convocou o Concílio Vaticano II,
Para abrir a Igreja a um novo
mundo,
E ser de novo sal e luz nesta
confusa mutação,
Do homem que criara a televisão,
a bomba H,
Mas desconhecia no âmago o
próprio coração...
Foi aí que a missa passou ao
vernáculo,
Que os leigos se uniram ao clero
em atuação,
Que o ecumenismo se abriu em
franco diálogo,
E o cuidado a todos os que sofrem
voltou à questão.
Dizem alguns que se tal não
tivesse ocorrido,
A Igreja de Roma talvez já
tivesse ruído
E o resto da Cristandade, levado
por inércia,
Teria se arrastado junto ao
precipício...
Ele morreu discretamente, como
viveu,
Recebeu poucas visitas, orou em
silêncio,
Morreu antes de o Concílio chegar
ao apogeu,
Quando já era conduzido por Paulo
VI.
E outros vieram, depois de seu
funeral:
João Paulo I, que morreu em
condições misteriosas.
João Paulo II, com certo apego ao
tradicional,
Lutou contra tiranos, visitou
terras inamistosas,
Sofreu atentado – e como João
XIII – também viraria santo...
Já o culto Ratzinger, feito
Bento, não aguentou o tranco,
Arrumou uma boquinha de Emérito,
no fundo da tropa,
Pra não ter de aturar a última Versalhes
da Europa...
E agora o Francisco, ó bom
Francisco, que luta sem meio,
Também já está ficando de saco
bem cheio...