Vermelho,
sangue, destruição.
Perseguição,
martírio, sangue vermelho.
Vermelho
ira, entrevada paixão.
Pecados
como a escarlata, sem espelhos...
Confucionistas, budistas mahayana,
taoístas,
Shang-Ti, Kuan-Yin, Li-Gong, Guan-Yu…
Nestorianos, franciscanos,
jesuítas,
Missionários em Xangai, Ningbo,
Shantou...
O Imperador preso na Cidade
Proibida,
Chian-Kai-Shek e a República...
Mao-Tsé-Tung e a revolução
fratricida,
O horror, os expurgos, o fim
da música...
A espiritualidade devocional
de Madame Guyon,
As primeiras bíblias do médico
Hudson Taylor...
O levante dos boxers, a acusação de ópio de
imperialismo de ocidentalismo de escapismo de antirrevolucionarismo de
burguesia de sedição...
O Tao não salva, Li não é a
Lei de Deus,
Siddartha não morreu por nós,
Jesus is my saviour!
Na Província de Fukien, uma
família só gerara meninas.
O avô, ministro ordenado,
numa terra hostil.
A mãe, orando feito Ana, por
um varão, de menos sinas,
E nasceu-lhe Nee-Shu-Tsu,
futuro sentinela e alcantil.
Por isso, mal completara
dezoito anos,
Quando entregou sua vida a
Cristo, o Senhor,
Passou a chamar-se Watchman, herói de muitos planos,
A servir de farol aos
perdidos, vigia aos soldados, atalaia de amor...
Publicava jornais, escrevia
livros, promovia reuniões de oração...
Intelectual brilhante, promoveu
avivamento entre os estudantes.
Químico de formação, fundou
seu próprio laboratório de manipulação
Que tantos remédios legou
para moléstias infectantes.
Fundou a Igreja do Pequeno Rebanho,
Desiludido com a divisão das
denominações tradicionais.
(Não percebera seu óbvio engano,
Fundando ainda mais uma,
entre tantas mais...)
Remédio para o corpo, remédio
para a alma,
Ele buscava incessantemente
restaurar
O shalom de Deus num mundo que se quebrara à falta
Da correta visão de Deus, do Homem,
da História a se desenrolar.
Mas a pior doença ainda
estava por afligir o seu povo
e o mundo, e lhe exigiria uma
nova batalha nas mentes:
A chacina rubra, a estela
bolchevique, os tentáculos do polvo
que tentariam, com suas
ventosas ideológicas, sufocar dissidentes!
Quantos não morreriam em
campos de trabalhos forçados!
Quantos, fuzilados, em mãos
postas à oração!
Quantos mestres escarnecidos
em público, com seus livros queimados!
Quantos mortos de fome, de
tortura, de dor, tudo em nome da Revolução!
O camarada Mao e seu Livro
Vermelho,
A jogar os séculos em
dialética materialista,
A excluir o Céu e retirar do
homem o seu espelho,
Dividindo irmãos em lutas de
classe e fanatismo ativista,
Devastando o Tibete,
fuzilando seus monges,
Chutando imagens do Buda,
exilando o Dalai Lama,
Expurgando opositores,
confiscando lares aos montes,
Devassando virgens e mulheres
alheias em sua cama,
Depois de comícios em que bradava
o valor da dignidade
(E como ele mesmo trouxera a
liberdade...),
Da mesma forma que as réstias
de alho,
que as folhas de chá verde
que devorava
com as dragas de seus dentes
que nunca escovava.
Do alto escalão do Partido
partiu a ordem,
Como a tantos outros também partiria
o ultimato:
Quinze anos de prisão –
sentença promulgada a todos que discordem,
Pelo Tribunal Revolucionário,
transitada em julgado no mesmo ato!
Correntes, picareta, pá,
uniforme de detento,
Escrituras confiscadas,
orações vigiadas,
Espancamentos, humilhações,
feridas sem unguento,
Tentativas de retratação,
intercessões caladas, cartas confiscadas!
Quando enfim cumpriu sua
pena, alquebrado e singelo,
Ainda nem assim o libertaram:
Preso não reformado! Não
convertido da cruz à foice e ao martelo!
Foi o que disseram os que o
interrogaram...
Desta vez seu corpo não
suportou tanto açoite e cicatriz
Embora n’alma jamais tenha
dobrado a cerviz.
Morreu Watchman Nee preso, e
enfim se libertou
Nos átrios da Mansão Celeste,
onde de fato se encontrou
Com o único justo, verdadeiro
e benigno Juiz!
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