quarta-feira, 29 de julho de 2015

WATCHMAN NEE



Vermelho, sangue, destruição.
Perseguição, martírio, sangue vermelho.
Vermelho ira, entrevada paixão.
Pecados como a escarlata, sem espelhos...


Confucionistas, budistas mahayana, taoístas,
Shang-Ti, Kuan-Yin, Li-Gong, Guan-Yu…
Nestorianos, franciscanos, jesuítas,
Missionários em Xangai, Ningbo, Shantou...


O Imperador preso na Cidade Proibida,
Chian-Kai-Shek e a República...
Mao-Tsé-Tung e a revolução fratricida,
O horror, os expurgos, o fim da música...


A espiritualidade devocional de Madame Guyon,
As primeiras bíblias do médico Hudson Taylor...
O levante dos boxers, a acusação de ópio de imperialismo de ocidentalismo de escapismo de antirrevolucionarismo de burguesia de sedição...
O Tao não salva, Li não é a Lei de Deus,
Siddartha não morreu por nós,
Jesus is my saviour!


Na Província de Fukien, uma família só gerara meninas.
O avô, ministro ordenado, numa terra hostil.
A mãe, orando feito Ana, por um varão, de menos sinas,
E nasceu-lhe Nee-Shu-Tsu, futuro sentinela e alcantil.


Por isso, mal completara dezoito anos,
Quando entregou sua vida a Cristo, o Senhor,
Passou a chamar-se Watchman, herói de muitos planos,
A servir de farol aos perdidos, vigia aos soldados, atalaia de amor...


Publicava jornais, escrevia livros, promovia reuniões de oração...
Intelectual brilhante, promoveu avivamento entre os estudantes.
Químico de formação, fundou seu próprio laboratório de manipulação
Que tantos remédios legou para moléstias infectantes.
Fundou a Igreja do Pequeno Rebanho,
Desiludido com a divisão das denominações tradicionais.
(Não percebera seu óbvio engano,
Fundando ainda mais uma, entre tantas mais...)


Remédio para o corpo, remédio para a alma,
Ele buscava incessantemente restaurar
O shalom de Deus num mundo que se quebrara à falta
Da correta visão de Deus, do Homem, da História a se desenrolar.


Mas a pior doença ainda estava por afligir o seu povo
e o mundo, e lhe exigiria uma nova batalha nas mentes:
A chacina rubra, a estela bolchevique, os tentáculos do polvo
que tentariam, com suas ventosas ideológicas, sufocar dissidentes!


Quantos não morreriam em campos de trabalhos forçados!
Quantos, fuzilados, em mãos postas à oração!
Quantos mestres escarnecidos em público, com seus livros queimados!
Quantos mortos de fome, de tortura, de dor, tudo em nome da Revolução!


O camarada Mao e seu Livro Vermelho,
A jogar os séculos em dialética materialista,
A excluir o Céu e retirar do homem o seu espelho,
Dividindo irmãos em lutas de classe e fanatismo ativista,


Devastando o Tibete, fuzilando seus monges,
Chutando imagens do Buda, exilando o Dalai Lama,
Expurgando opositores, confiscando lares aos montes,
Devassando virgens e mulheres alheias em sua cama,
Depois de comícios em que bradava o valor da dignidade
(E como ele mesmo trouxera a liberdade...),
Da mesma forma que as réstias de alho,
que as folhas de chá verde que devorava
com as dragas de seus dentes que nunca escovava.


Do alto escalão do Partido partiu a ordem,
Como a tantos outros também partiria o ultimato:
Quinze anos de prisão – sentença promulgada a todos que discordem,
Pelo Tribunal Revolucionário, transitada em julgado no mesmo ato!


Correntes, picareta, pá, uniforme de detento,
Escrituras confiscadas, orações vigiadas,
Espancamentos, humilhações, feridas sem unguento,
Tentativas de retratação, intercessões caladas, cartas confiscadas!


Quando enfim cumpriu sua pena, alquebrado e singelo,
Ainda nem assim o libertaram:
Preso não reformado! Não convertido da cruz à foice e ao martelo!
Foi o que disseram os que o interrogaram...


Desta vez seu corpo não suportou tanto açoite e cicatriz
Embora n’alma jamais tenha dobrado a cerviz.
Morreu Watchman Nee preso, e enfim se libertou
Nos átrios da Mansão Celeste, onde de fato se encontrou
Com o único justo, verdadeiro e benigno Juiz!





Nenhum comentário:

Postar um comentário