quinta-feira, 30 de julho de 2015

JOÃO XXIII


Angelo Giuseppe Roncalli,
Nasceu com nome de anjo,
Com nome do pai terreno de Cristo.
E por mais que dele se fale,
Com admiração e espanto,
De como era afável e bem quisto,
Não se faz jus à sua humildade,
Ao seu afável senso de humor,
Seu espírito conciliador
E sua sobriedade.


Entre os camponeses de Sotto Il Monte,
Seu pai vira que não levava jeito com arado:
Queria era estudar e ir adiante
Do que seu pobre vilarejo lhe tinha preparado.


Foi enviado ao pároco local,
Depois ao Seminário.
Sempre brilhante, sempre jovial,
Fez-se um culto e obediente vigário.


Professor dos seminaristas, secretário do bispo,
Uma promissora esperança!
Capelão na Primeira Grande Guerra, Arcebispo,
Diplomata na Bulgária, na Turquia, na Grécia, na França...


Dialogando com ortodoxos, salvando judeus do extermínio,
Por fim cardeal e Patriarca de Veneza,
Até ser eleito, num angustiado escrutínio,
Um novo Papa em um mundo de incerteza...


Quando todos esperavam que sua velhice lhe curvasse,
Mesmo com o estômago a lhe arder em tumores,
E com a agenda sobrecarregada de conflitos e impasses
Que resolvia com doçura, afogando rancores,
Convocou o Concílio Vaticano II,
Para abrir a Igreja a um novo mundo,
E ser de novo sal e luz nesta confusa mutação,
Do homem que criara a televisão, a bomba H,
Mas desconhecia no âmago o próprio coração...


Foi aí que a missa passou ao vernáculo,
Que os leigos se uniram ao clero em atuação,
Que o ecumenismo se abriu em franco diálogo,
E o cuidado a todos os que sofrem voltou à questão.


Dizem alguns que se tal não tivesse ocorrido,
A Igreja de Roma talvez já tivesse ruído
E o resto da Cristandade, levado por inércia,
Teria se arrastado junto ao precipício...


Ele morreu discretamente, como viveu,
Recebeu poucas visitas, orou em silêncio,
Morreu antes de o Concílio chegar ao apogeu,
Quando já era conduzido por Paulo VI.


E outros vieram, depois de seu funeral:
João Paulo I, que morreu em condições misteriosas.
João Paulo II, com certo apego ao tradicional,
Lutou contra tiranos, visitou terras inamistosas,
Sofreu atentado – e como João XIII – também viraria santo...
Já o culto Ratzinger, feito Bento, não aguentou o tranco,
Arrumou uma boquinha de Emérito, no fundo da tropa,
Pra não ter de aturar a última Versalhes da Europa...
E agora o Francisco, ó bom Francisco, que luta sem meio,
Também já está ficando de saco bem cheio...  



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