terça-feira, 4 de agosto de 2015

ÓSCAR ROMERO



Era um vilarejo humilde
Em Ciudad Barrios, El Salvador.
Uma terra que leva o nome do Senhor,
Mas onde todo mal incide...


Foi lá que Óscar Arnulfo nasceu,
E apesar de mui pobre, queria ser sacerdote.
Seu esforço a todo o adverso venceu
E ele galgava conquistas com um mote:
“Identificar-se com os pobres, sempre”.


Doutorou-se na Pontifícia Universidade Gregoriana,
Consagrado Arcebispo de San Salvador,
Escolhido justamente por seu conservadorismo que não inflama,
Numa época em que os ânimos prenunciavam o terror.


Mas se sua missão era de dar voz a quem não tinha,
Como calar-se aos desmandos da Junta Revolucionária de Governo,
À miséria cotidiana, renitente e vizinha,
Aos índios, camponeses e crianças alvejados por balas sem termo?


Aos desaparecidos, que chegariam a nove mil?
Aos assassinados, que chegariam a trinta mil?
À direita e à esquerda que se digladiavam em Guerra Civil,
Deixando mortos até nas escadas da igreja em que serviu?


Optou, como cristão, pela não-violência,
Como Martin Luther King, como o Mahatma Gandhi.
Não encontrou apoio no Vaticano, apenas complacência,
Um abraço de João Paulo II, pedidos de cautela e não levante.


Sabia então que estava sozinho com Deus,
Assim como seus amados pobres.
Teria que amar aqueles que ninguém amava como seus,
Sofrer-lhes as chagas, beber de seus odres.


Na homilia de 11 de novembro de 1977,
Inflamado de dor e piedade inconteste,
Clamou em alta voz contra o Perseguidor,
A infligir a suas ovelhas tais agonias
Que lhe não deixava outra possível expressão:
Em nome de Deus e desse povo sofredor,
Cujos lamentos sobem ao céu todos os dias,
Peço-lhes, suplico-lhes, ordeno-lhes: cessem a repressão!”


Quando o cristão se depara com a injustiça,Com a apostasia a Deus, com a tirania e a impiedade,Não há direita ou esquerda, nem ortodoxia mortiça,Não há Teologia da Libertação ou da Prosperidade!Há ação e oração, sal da terra, luz do mundo,Não fermento fariseu,Nem materialismo saduceu,Nem distanciamento essênio do restante dos hebreus,Mas comunhão e compaixão no seu sentido mais profundo!


Seu fim se traçava no coração do ditador,Enquanto torturas inundavam de gritos as delegacias,Enquanto um silêncio pesado se misturava a ondas de pavor,Enquanto inocentes pagavam o preço das ideologias.


Em 24 de março de 1980,Enquanto celebrava a missa,Um atirador de elite se apresenta,Qual Judas convencido de sua troca iníqua,E lhe dispara uma bala ao peito,Certeira no coração do eleitoPelo povo que lhe tinha apreçoE que inda não sabia ser este só o começoDe muito mais mortes e estertores

Numa guerra sempre sem vencedores.Não houve paz na TerraNem no dia de seu enterro:Atiradores, com mente de ódio e guerra,Invadiram o cemitério inteiroE dispararam contra aqueles a prantearPara lhes dar mais motivos para chorar!


Uma onda de protestos se levantou por toda parte.A ONU declarou o dia desse ato desumanoO Dia Internacional pelo Direito à Verdade
Acerca das Graves Violações dos Direitos Humanos.

A Abadia de Westminster, na Inglaterra,Mantém uma Galeria dos Mártires do Século XX,E ali, entre outras esculturas de face terna ou austera,Repousa a sua, como mais um lembrete triste,Ao lado de Dietrich Bonhoeffer, Martin Luther King,
Madre Elisabeth da Rússia, São Maximiliano Kolbe,E outros cuja memória não se extingueAo contrário da de seus algozes.


Quiseram calar-lhe a voz.Não o conseguiram.Sua beatificação foi aprovada por decreto do Papa Francisco,Que como se sabe, também enfrentou ditadores na Argentina,E optou pelos pobres, como o outro Francisco,Que há oito séculos também fez tremer sua Igreja em ruínas...


Portanto, quando vires teu mundo em confusão,Os fracos trucidados sem qualquer misericórdia,Lembra do teu Mestre que tanta atençãoDispensava aos exilados deste deserto de discórdia.






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