segunda-feira, 24 de agosto de 2015

MADRE TERESA DE CALCUTÁ


Um amor condicional,
Uma felicidade circunstancial,
E vivemos todos ao nível dos cães!
Poucos servos, muitos capitães!

Co’a simplicidade de um Pai Nosso,
Co’a contemplação de uma Ave Maria,
Co’a convicção de um Credo Niceno,
Ela fez de chagas curadas sua romaria.

Agnes Gonxha Bojaxhiu,
Flor albanesa maltratada
Mais pelo sofrimento alheio que por si,
Pois que nesta nossa vida encarcerada,
Não parece mesmo a ti
Que todos levamos bocados de dor macerada?

Se Deus é Caridade,
Com que direito não o seríamos?
Se Cristo em Sua face de Verdade
Era o único a olhar aos cegos, aos leprosos e publicanos,
Com que prerrogativa nos isolaríamos?

A Santa das sarjetas, a doce avó dos miseráveis,
A enfermeira dos párias intocáveis,
A protetora das meretrizes mal arrancadas das bonecas,
O último rosto visto por moribundos de tez infecta.

Rosto cavado de rugas profundas,
De sol de trabalho, de lágrimas dos outros.
Rosto que chorava por quem ninguém mais chorava,
Mas que não perdia tempo com lamúrias – o que não ajudava,
Incomodava a doce senhora albanesa da Iugoslávia
Que inda menina era noviça de Nossa Senhora de Loreto,
Lá na Irlanda onde estudara o seu perfeito
Caminho que queria seguir desde criança
E raiar a todos sua tenaz esperança
De que um dia
O mundo todo seria
Um único coração a Deus oferecido em alegria!

Mas naquela escola ela se agoniava.
Fez-se enfermeira em Darjeeling,
E neste outro colégio também se incomodava
Com o repouso tranquilo de seus jardins,
Enquanto lá fora os pobres, aos milhares,
Nas calçadas, barracos, lixões, oficinas,
Contorciam-se em fome, doenças, isentos de olhares
De qualquer governo, casta ou Nações Unidas...

Andando pelas favelas de Calcutá,
Ela escolheu servir os que não podiam agradecer-lhe.
Distante de qualquer templo de Vishnu, de qualquer castelo de rajá,
Sem se importar com as moléstias que podiam transmitir-lhe,
Ela andava serena e pronta para acolher, mal tendo meios,
Pois a Divina Providência supre a todos os anseios,
Como Jesus já ensinara no Sermão do Monte
Aos seus embaixadores da paz, águas da Sua fonte...

Fundou a Ordem das Missionárias da Caridade
Perto de um templo de Kali, a deusa da morte.
Erguia albergues, escolas, hospitais pela cidade,
E por todo o mundo com as doações, vindas de Sul e de Norte.

No início, perseguida por muçulmanos e hindus,
Viu estes chamarem-lhe “Deusa da Misericórdia”,
“Face de Deus”, “Mãe dos Pobres”, e quão incomum
Era de fato tal amor nesta Terra hostil e sórdida!

Deram-lhe a Medalha do Senhor do Lótus na Índia,
Deram-lhe o Prêmio Nobel da Paz em Estocolmo,
Deram-lhe a Medalha Presidencial da Liberdade dos Estados Unidos,
E por fim seu carro fúnebre foi o mesmo do Patrono
Da independência da Índia, o Mahatma Gandhi,
Que por ser também uma alma grande,
Como tu foste, sem qualquer alarde,
Foi alvejado a tiros por um covarde...

Dizem que serás canonizada em breve.
Que o Vaticano espera ocasião oportuna
De proclamar ao mundo tua vocação nada leve
Que desempenhaste contra toda má fortuna,
Com singeleza de flor e persistência de felino,
Num mundo que nada sabe de amor tão cristalino.
Como se fosse necessária qualquer prova
De que vieste nos ensinar um pouco do que é o Céu
E nos humilhar em nossa egoísta cova

A qual cavamos, ignotamente, para nosso próprio labéu!




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