Um
amor condicional,
Uma
felicidade circunstancial,
E
vivemos todos ao nível dos cães!
Poucos
servos, muitos capitães!
Co’a
simplicidade de um Pai Nosso,
Co’a
contemplação de uma Ave Maria,
Co’a
convicção de um Credo Niceno,
Ela
fez de chagas curadas sua romaria.
Agnes Gonxha Bojaxhiu,
Flor albanesa maltratada
Mais pelo sofrimento alheio
que por si,
Pois que nesta nossa vida
encarcerada,
Não parece mesmo a ti
Que todos levamos bocados de
dor macerada?
Se Deus é Caridade,
Com que direito não o
seríamos?
Se Cristo em Sua face de Verdade
Era o único a olhar aos
cegos, aos leprosos e publicanos,
Com que prerrogativa nos
isolaríamos?
A Santa das sarjetas, a doce
avó dos miseráveis,
A enfermeira dos párias
intocáveis,
A protetora das meretrizes
mal arrancadas das bonecas,
O último rosto visto por
moribundos de tez infecta.
Rosto cavado de rugas
profundas,
De sol de trabalho, de
lágrimas dos outros.
Rosto que chorava por quem
ninguém mais chorava,
Mas que não perdia tempo com
lamúrias – o que não ajudava,
Incomodava a doce senhora
albanesa da Iugoslávia
Que inda menina era noviça de
Nossa Senhora de Loreto,
Lá na Irlanda onde estudara o
seu perfeito
Caminho que queria seguir
desde criança
E raiar a todos sua tenaz
esperança
De que um dia
O mundo todo seria
Um único coração a Deus
oferecido em alegria!
Mas naquela escola ela se
agoniava.
Fez-se enfermeira em
Darjeeling,
E neste outro colégio também
se incomodava
Com o repouso tranquilo de
seus jardins,
Enquanto lá fora os pobres,
aos milhares,
Nas calçadas, barracos,
lixões, oficinas,
Contorciam-se em fome,
doenças, isentos de olhares
De qualquer governo, casta ou
Nações Unidas...
Andando pelas favelas de
Calcutá,
Ela escolheu servir os que
não podiam agradecer-lhe.
Distante de qualquer templo
de Vishnu, de qualquer castelo de rajá,
Sem se importar com as moléstias
que podiam transmitir-lhe,
Ela andava serena e pronta
para acolher, mal tendo meios,
Pois a Divina Providência
supre a todos os anseios,
Como Jesus já ensinara no
Sermão do Monte
Aos seus embaixadores da paz,
águas da Sua fonte...
Fundou a Ordem das
Missionárias da Caridade
Perto de um templo de Kali, a
deusa da morte.
Erguia albergues, escolas,
hospitais pela cidade,
E por todo o mundo com as
doações, vindas de Sul e de Norte.
No início, perseguida por
muçulmanos e hindus,
Viu estes chamarem-lhe “Deusa
da Misericórdia”,
“Face de Deus”, “Mãe dos
Pobres”, e quão incomum
Era de fato tal amor nesta
Terra hostil e sórdida!
Deram-lhe a Medalha do Senhor
do Lótus na Índia,
Deram-lhe o Prêmio Nobel da
Paz em Estocolmo,
Deram-lhe a Medalha
Presidencial da Liberdade dos Estados Unidos,
E por fim seu carro fúnebre
foi o mesmo do Patrono
Da independência da Índia, o
Mahatma Gandhi,
Que por ser também uma alma grande,
Como tu foste, sem qualquer
alarde,
Foi alvejado a tiros por um
covarde...
Dizem que serás canonizada em
breve.
Que o Vaticano espera ocasião
oportuna
De proclamar ao mundo tua
vocação nada leve
Que desempenhaste contra toda
má fortuna,
Com singeleza de flor e
persistência de felino,
Num mundo que nada sabe de
amor tão cristalino.
Como se fosse necessária
qualquer prova
De que vieste nos ensinar um
pouco do que é o Céu
E nos humilhar em nossa egoísta
cova
A qual cavamos, ignotamente,
para nosso próprio labéu!
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