Ligue
a TV, ligue o rádio, pegue o jornal.
Olhe
as fachadas nas ruas, os indícios nas operações escusas.
Disque
nas madrugadas solitárias de temporal.
Eles
estarão lá. Não aceitam derrotas, não entendem recusas.
Peça,
por varejo, por atacado.
A
farmácia é completa. A satisfação é garantida.
O
investimento é a curto prazo.
Os
juros são uma alma perdida!
Sorrisos,
cabelos, colarinhos, gravatas.
Promessas,
gritos estridentes, bravatas.
De
repente há um revival de
indulgências, de relíquias,
De
simonia, de xamanismo, de estultícias...
Faz-nos
querer chamar Jesus contra os vendilhões do Templo.
Faz-nos
querer chamar Lutero contra João Tetzel.
Faz-nos
ver que o homem não muda, só mudam os tempos,
E
que ainda se trocam moedas de César por sacros shekels...
Como
se Deus fosse tal máquina de refrigerante
Em
que se depositam dízimos e ofertas
(Oferta
de Caim, que fique bem claro e gritante...)
E
se esperam snacks e latinhas, por
meio de fórmulas certas.
E
se não vêm? Chuta-se a máquina?
Como
uma criança aos berros, determina-se, impreca-se,
E
não tem erro essa tática,
Por
que se tem, a culpa é sua, lasque-se!
Em
egos gordos a doutrina vai se depositando,
Como
tecidos adiposos de felicidade pastosa.
E
a vida vai correndo em mercadorias se esgotando,
E
a alma com sede, enganada e desgostosa!
Dos
púlpitos trovoam guerras de Davi, Gideão, Josué.
A
mesma frase de Malaquias nas bocas dos gazofilácios.
Os
óleos santos, as toalhas ungidas, os leões da fé.
As
orações fortes, os sonhos co’os palácios.
O
copo d’água recebe ondas-bênçãos em cima da televisão.
E
a dívida no tabelião importa mais que o divino perdão!
Se
isso começou com Kenyon, com Hagin, com Hinn,
Com
o pensamento positivo, com o transcendentalismo,
Com
o materialismo, com o capitalismo, enfim,
Devemos
nos perguntar se isso é cristianismo.
Se
a cura de Deus vale mais que o Deus da cura,
Se
a salvação se restringiu a esse mundo passageiro,
Em
que passageiros somos num deserto de secura,
E
não devemos nos seduzir pelas malas do bagageiro,
Por
que insistir numa riqueza que no fundo é só pobreza:
Cisternas
rotas que escavamos, longe do Deus de toda grandeza?
Ó
manancial de águas vivas, rio sem fim!
Que
corre do coração que suspira como as corças
Pelo
seu Salvador, por seus átrios de marfim!
E
tantos se contentando com o conforto de palhoças!
Porcos
na sala, tumores do corpo, parasitas do espírito!
Falsos
profetas, lobos em pele de cordeiro, estelionatários do aflito!
Todo
cuidado é pouco. Todo que se deixa enganar é louco.
Pois
é tão fácil abdicarmos de uma primogenitura abençoada
Por
um prato de lentilha bem temperada,
Ou
mesmo nos esquecermos da Canaã que tudo vale,
Preferindo
ser escravo no Egito por uma panela de carne!
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