terça-feira, 22 de setembro de 2015

TEOLOGIA DA PROSPERIDADE



Ligue a TV, ligue o rádio, pegue o jornal.
Olhe as fachadas nas ruas, os indícios nas operações escusas.
Disque nas madrugadas solitárias de temporal.
Eles estarão lá. Não aceitam derrotas, não entendem recusas.


Peça, por varejo, por atacado.
A farmácia é completa. A satisfação é garantida.
O investimento é a curto prazo.
Os juros são uma alma perdida!


Sorrisos, cabelos, colarinhos, gravatas.
Promessas, gritos estridentes, bravatas.
De repente há um revival de indulgências, de relíquias,
De simonia, de xamanismo, de estultícias...


Faz-nos querer chamar Jesus contra os vendilhões do Templo.
Faz-nos querer chamar Lutero contra João Tetzel.
Faz-nos ver que o homem não muda, só mudam os tempos,
E que ainda se trocam moedas de César por sacros shekels...


Como se Deus fosse tal máquina de refrigerante
Em que se depositam dízimos e ofertas
(Oferta de Caim, que fique bem claro e gritante...)
E se esperam snacks e latinhas, por meio de fórmulas certas.


E se não vêm? Chuta-se a máquina?
Como uma criança aos berros, determina-se, impreca-se,
E não tem erro essa tática,
Por que se tem, a culpa é sua, lasque-se!


Em egos gordos a doutrina vai se depositando,
Como tecidos adiposos de felicidade pastosa.
E a vida vai correndo em mercadorias se esgotando,
E a alma com sede, enganada e desgostosa!


Dos púlpitos trovoam guerras de Davi, Gideão, Josué.
A mesma frase de Malaquias nas bocas dos gazofilácios.
Os óleos santos, as toalhas ungidas, os leões da fé.
As orações fortes, os sonhos co’os palácios.
O copo d’água recebe ondas-bênçãos em cima da televisão.
E a dívida no tabelião importa mais que o divino perdão!


Se isso começou com Kenyon, com Hagin, com Hinn,
Com o pensamento positivo, com o transcendentalismo,
Com o materialismo, com o capitalismo, enfim,
Devemos nos perguntar se isso é cristianismo.


Se a cura de Deus vale mais que o Deus da cura,
Se a salvação se restringiu a esse mundo passageiro,
Em que passageiros somos num deserto de secura,
E não devemos nos seduzir pelas malas do bagageiro,
Por que insistir numa riqueza que no fundo é só pobreza:
Cisternas rotas que escavamos, longe do Deus de toda grandeza?


Ó manancial de águas vivas, rio sem fim!
Que corre do coração que suspira como as corças
Pelo seu Salvador, por seus átrios de marfim!
E tantos se contentando com o conforto de palhoças!


Porcos na sala, tumores do corpo, parasitas do espírito!
Falsos profetas, lobos em pele de cordeiro, estelionatários do aflito!
Todo cuidado é pouco. Todo que se deixa enganar é louco.
Pois é tão fácil abdicarmos de uma primogenitura abençoada
Por um prato de lentilha bem temperada,
Ou mesmo nos esquecermos da Canaã que tudo vale,

Preferindo ser escravo no Egito por uma panela de carne!






Nenhum comentário:

Postar um comentário