"Perdoem a cara amarrada
Perdoem a falta de abraço
Perdoem a falta de espaço
Os dias eram assim
Perdoem por tantos perigos
Perdoem a falta de abrigo
Perdoem a falta de amigos
Os dias eram assim".
Perdoem a falta de espaço
Os dias eram assim
Perdoem por tantos perigos
Perdoem a falta de abrigo
Perdoem a falta de amigos
Os dias eram assim".
IVAN LINS – “Aos Nossos Filhos”
Adolescência-obsolescência
Quando
a vida era uma eterna espera
E
as descobertas uma eterna decepção.
Quando
se era velho num corpo jovem.
Quando
se era morto em pleno pulsar da vida.
Quando
a máxima aventura era servir de estafeta.
Quando
o máximo do protagonismo era ser gandula.
Quando
a vida era uma grande punheta.
Quando
a natureza atormenta e a poesia adula.
Uma
infância feliz e depois o resto.
Perder
o Éden, perder o Olimpo.
Não
é assim na vida? Há um teto
Em
que se bate a cabeça por não ser mais limpo.
Havia
um niilismo irritante.
Um
silêncio suspenso como se algo pior
Pudesse
saltar a qualquer instante
De
dentro do monstro que havia em nós.
Não
se era mais inocente nem inimputável.
A
mesada mirrada socada na lata do armário
Pra
se gastar nos sebos, lojas de vinil, na zona.
E
de repente nada mais era tão agradável
Que
pudesse dar conta da falta de salário,
Do
cativeiro babilônico, da solitária intentona.
Quando
explodiam as marés de testosterona de dipirona de melatonina
De
cortisol de fel de falta de sol de cafeína
Não
havia nenhuma endorfina nenhuma serotonina
Nenhuma
esperança nenhuma carícia de menina
Só
havia amor manchado de ódio
E toda
paisagem manchada de cinza.
Você
ouviu falar dessa nova onda de Seattle,
Dessa
nova onda de Londres?
Desses
meninos apáticos de coração de aço,
Desse
novo mundo cheio de pontes?
Esse mundo é Babilônia, é Gomorra, é fescenino...
É um enredo de David Lynch, de Almodóvar, de Tarantino.
World wide web, clones ruminantes, blocos econômicos.
Samples, hits descartáveis, sonhos anacrônicos...
Esse mundo é Babilônia, é Gomorra, é fescenino...
É um enredo de David Lynch, de Almodóvar, de Tarantino.
World wide web, clones ruminantes, blocos econômicos.
Samples, hits descartáveis, sonhos anacrônicos...
Eu
preferia ouvir R.E.M., Smashing Pumpkins, Soul Asylum,
Guns N’ Roses, Van Halen,
Rimbaud, Lord Byron!
Cheirando
limpador de disco - meu ópio -, olhando no velho caleidoscópio,
Para
um crônico agorafóbico, tecnofóbico, biofóbico,
Dava
fuga, dava escapismo, dava barato.
E agora
ainda pegava MTV no meu quarto!
E
as mulheres nuas nas paredes com sorrisos inatingíveis
Eram
como as ninfas da escola pra quem eu era de fato
Um
fantasma de apelos e de preces invisíveis.
Havia
os pulsos cortados e as sessões de terapia
E
os remédios e seus efeitos colaterais.
Mas
o pior efeito colateral era o da vida insípida
E dentro
do meu peito o arranhar dos animais!
Há
aqueles para quem a prima juventude
É um
relicário intenso de belas recordações
É um
bale feito de tafetá e de tule
É
um rito de passagem de melros a falcões.
Mas
há aqueles que parecem perdidos lá
Em
algum lugar de um vidro quebrado
Em
alguma célula de um talho não cicatrizado
Num
ser mutilado que não chegou a cá.
Príncipe
dos rochedos, cavaleiro de antanho,
Andarilho
sedento de cisternas rotas,
Aviador
de roteiro tacanho
Que
gira como pombo em torno de favas ocas,
Eu
quero pela última vez olhar-te nos olhos,
E como
irmão mais velho decretar teu fim.
Hoje
haverá um fratricídio-infanticídio sem ódios.
Hoje
haverá um homicídio dentro de mim.
Que orgulho tenho do meu professor...
ResponderExcluirSaber usar as palavras é um dom que Deus dá a um grupo seleto e você era o primeiro da fila!
Obrigado, Ivani! Fico lisonjeado com seu elogio...
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