segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Águas Amargas (Da "Epopeia Árida")


“As palavras esmagam-se entre o silêncio

que as cerca e o silêncio que transportam.”

      Manuel António Pina

 

 

As palavras esmagam-se entre o silêncio

que as cerca e o silêncio que transportam

como uma bobina de metal de existências

estampadas no anverso que denotam.

 

Carregam rios de discursos inefáveis

putrefatos de nenúfares de risos,

servem de leito a barcaças de memórias

inventadas em sonhos nunca tidos.

 

O rio que era e que é verdade

é tão sólido quanto sua foz naufragada,

e tão líquido quanto vagas vazias

espumando no grande encontro com o nada.

 

Não derrames, no entanto, as tuas lágrimas

sobre as sombras que faustosas nele passam,

pois o Belo é de si mesmo a valia,

sendo a seiva das horas que estilhaçam

 

e o sentido da viagem o soube Ulisses morto:

é o estar-se navegando e não o porto.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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