quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Um Passeio de Haikais


Nestas férias, participando de uma oficina na Casa das Rosas chamada “Haicai: Um exercício de iluminação poética”, recebi a tarefa de fotografar momentos da vida e produzir meus próprios haikais. Aceitei o desafio – não sei se venci – mas foi este o resultado...

 

 Haikais:

 

Vê que a estrela é alta

Escandalizando luz

– o homem é vil –

 
 

O verão lá fora:

O sol em todas as faces

– Outono aqui dentro –

 

Só há uma vida:

A primavera chegando

E a alma com invernos...

 

 
Sapo: bufão-mor

Barítono da várzea

Só grilos aplaudem...

 

 
Visita aos pais

A casa já não é minha

O café é mais quente.

 

 

Restos de passado

Naus de ossadas líricas:

Destino do ego?

 

 
A minha mulher

Planta as flores do jardim

– Seria eu capaz? –



 

Caneca de sempre

Ternura de porcelana:

Vai quebrar um dia?

 
 

O macaquinho

Com seus óculos pesados

Diz o inaudível.

 
 

Maçãs intocadas

Esquecidas na fruteira

Esperam seu fim?


 

Páginas das eras

Solidão nestas estantes

O leitor é um fungo.

 

 
Blues e rock n’ roll

 – Canção da vida e da morte –

Borbulha no sangue.

 

 

Falar sobre quê?

Poesia está na rua!

– Bradaram as musas –

 
 

Precauções na mala

Um chapéu pra passear

E talvez voltar.

 
 

Passeia comigo

Pois o dia está cinzento

E não é perfeito? 



 
Janelas não veem

que sonho nasce do cinza:

Passantes não leem.



 
Nas esquinas tumbas

Cadáveres se encontram

Sem dizer palavra.


 

Uma bailarina

– Equilíbrio de papel –

Dança no vazio.

 
 
 
Diário café

Aquece todo marasmo:

Smoke on the water.

 
 

Krishna na vitrine

a tocar sua flauta

e ninguém lhe ouve.



 

Siddartha em silêncio.

Mas a voz do interior

Teria as respostas?

 
 
 
Pedro afundava

E se atrevia demais

Porque hesitava.

 
 
 
(Diante do Túmulo)
 
Vocês aí dormem?

– A criança quer saber –

Há sonho? É bom?

 
 
(Cemitério)
 
A plateia muda

Espera em outro lugar

– não jardim de pedras –

 
 
 
Voltar, mesmo lar.

Ir e voltar sempre e sempre.

Um dia, lar para sempre?

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