Nestas
férias, participando de uma oficina na Casa das Rosas chamada “Haicai: Um
exercício de iluminação poética”, recebi a tarefa de fotografar momentos da
vida e produzir meus próprios haikais. Aceitei o desafio – não sei se venci –
mas foi este o resultado...
Vê que a estrela é alta
Escandalizando luz
– o homem é vil –
O verão lá fora:
O sol em todas as faces
– Outono aqui dentro –
Só há uma vida:
A primavera chegando
E a alma com invernos...
Barítono da várzea
Só grilos aplaudem...
A casa já não é minha
O café é mais quente.
Restos de passado
Naus de ossadas líricas:
Destino do ego?
Planta as flores do jardim
– Seria eu capaz? –
Caneca de sempre
Ternura de porcelana:
Vai quebrar um dia?
O macaquinho
Com seus óculos pesados
Diz o inaudível.
Maçãs intocadas
Esquecidas na fruteira
Esperam seu fim?
Páginas das eras
Solidão nestas estantes
O leitor é um fungo.
Blues e rock n’ roll
– Canção da vida e da morte –
Borbulha no sangue.
Falar sobre quê?
Poesia está na rua!
– Bradaram as musas –
Precauções na mala
Um chapéu pra passear
E talvez voltar.
Passeia comigo
Pois o dia está cinzento
E não é perfeito?
Janelas não veem
que sonho nasce do cinza:
Passantes não leem.
Nas esquinas tumbas
Cadáveres se encontram
Sem dizer palavra.
Uma bailarina
– Equilíbrio de papel –
Dança no vazio.
Aquece todo marasmo:
Smoke on the water.
Krishna na vitrine
a tocar sua flauta
e ninguém lhe ouve.
Siddartha em silêncio.
Mas a voz do interior
Teria as respostas?
Pedro afundava
E se atrevia demais
Porque hesitava.
(Diante do Túmulo)
Vocês aí dormem?
– A criança quer saber –
Há sonho? É bom?
Espera em outro lugar
– não jardim de pedras –
Voltar, mesmo lar.
Ir e voltar sempre e sempre.
Um dia, lar para sempre?
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