Nunca
fui brasileiro de verdade.
Sou
brasileiro torto.
Brasileiro
à metade.
Brasileiro
semimorto.
Não
gosto muito de samba.
Não
gosto nada de futebol.
Não
danço, não dou risadas amplas.
Sou
avesso ao sol.
Não
assisto novela.
Não
fofoco na janela.
Não
comento a bunda alheia.
Não
tenho cachaça na veia.
Tenho
mais a taciturna sina
Dos
meus antepassados lusos
Co´a
silente melancolia
Dos
seus olhos fundos,
Chorando
eternamente nos portos
As
caravelas idas
E os
reinos remotos
Que
já não têm mais vida.
Sou
mais brasileiro gauche
Que
toma café no Largo do Arouche
Como
se estivesse na Champs-Élysées
Folheando
em lágrimas Mallarmé.
Não
bebo cerveja às sextas.
Não
dou ouvido a boatos.
Não
pulo carnaval.
Não
acompanho campeonatos.
Não
sou simples nem refinado.
Não
vou a baladas no sábado.
Não fico ocioso aos domingos
Nem
concorro em bingos.
Não
tolero o não levar a sério.
Tira-me
do sério o deixar para depois
E se
me achas um chato, um velho,
Pouco
me importa. Qual é? Que foi?
Parabéns....belíssimo
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