sábado, 27 de julho de 2013

O ESTRANGEIRO

Nunca fui brasileiro de verdade.
Sou brasileiro torto.
Brasileiro à metade.
Brasileiro semimorto.
Não gosto muito de samba.
Não gosto nada de futebol.
Não danço, não dou risadas amplas.
Sou avesso ao sol.
Não assisto novela.
Não fofoco na janela.
Não comento a bunda alheia.
Não tenho cachaça na veia.
Tenho mais a taciturna sina
Dos meus antepassados lusos
Co´a silente melancolia
Dos seus olhos fundos,
Chorando eternamente nos portos
As caravelas idas
E os reinos remotos
Que já não têm mais vida.
Sou mais brasileiro gauche
Que toma café no Largo do Arouche
Como se estivesse na Champs-Élysées
Folheando em lágrimas Mallarmé.
Não bebo cerveja às sextas.
Não dou ouvido a boatos.
Não pulo carnaval.
Não acompanho campeonatos.
Não sou simples nem refinado.
Não vou a baladas no sábado.
Não fico ocioso aos domingos      
Nem concorro em bingos.
Não tolero o não levar a sério.
Tira-me do sério o deixar para depois
E se me achas um chato, um velho,

Pouco me importa. Qual é? Que foi?



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