Ia
o jovem para casa,
Os
tomos de Direito nos braços,
O
coração apertado,
A anfechtung[1]
na alma.
A
tempestade desabou sobre o jovem,
O
raio tombou a árvore:
“Sant’Ana!
Virgem Santíssima!
Mantenham-me
vivo que serei padre!”
Não
podendo descumprir a promessa,
Ia
o jovem ao convento agostiniano;
As
maldições de seu pai em seu rastro,
A
dúvida enorme dentro de si.
Ia
o jovem das preces ao claustro,
Do
claustro às preces;
O
crucifixo no pescoço,
A anfechtung na alma.
Passando
os dias, já Doutor em Teologia,
Preparando-se
para pregar,
Divisou
o que nunca antes vira,
Abriu-se-lhe
novo limiar:
“O
justo viverá pela fé”.
“A
salvação vem pela fé”
“Dom
gratuito de Deus é a fé”
“Não
se agrada a Deus sem fé”.
Assim
a anfechtung finalmente terminou
Mas
a caçada começou.
Doutor
Martinho foi visto com pavor:
“Um
javali nas vinhas do Senhor”.
Enojava-se
com a lembrança da viagem a Roma,
Enojava-se
com Tetzel vendendo indulgências.
Salvar-se-ia
um corpo podre até as plantas dos pés,
Podre
em seus membros, podre em suas exigências?
Então
como um rugido que abalou o mundo,
Fixou
na Catedral de Wittenberg as suas teses
E
começaram a ruir neste segundo
Séculos
de entulho de tradição e seus reveses.
Aos
poucos, expunha o monge iluminado
Toneladas
de erro e miopia:
Que
Pedro não foi o primeiro Papa;
Que
não era co-Redentora Maria;
Que
nunca houve Limbo ou Purgatório;
Que
transubstanciação era mito ilusório;
Que
não se devem aceitar ensinos e iluminuras
Fora
do texto inspirado das Escrituras;
Que
não se deve buscar intercessor
Que
não seja Jesus, Nosso Senhor;
Que
o crente não deve exercer seu ministério
Trancafiado
na proteção de um monastério!
Querendo
calá-lo, o Papa o excomunga.
Querendo
protegê-lo, seus amigos o guardam num castelo.
Mas
o ex-monge, em sua esperança profunda
E
em seu espiritual anelo,
Canta
como um anjo no pináculo
Enquanto
traduz a Bíblia para o vernáculo:
“Castelo forte é nosso Deus, espada e
bom escudo!
Com seu poder defende os seus em todo
transe agudo”.
E
assim é que peleja no Debate de Leipzig,
E
assim é que peleja na Dieta de Worms,
E
assim é que se casa com uma ex-freira:
Catarina
von Bora, a fiel companheira.
Desafiando
o Papa,
Abrandando
camponeses,
Intervindo
entre príncipes,
Ensinando
e pregando tantas vezes...
Uns
lhe chamaram monge louco e beberrão,
Outros
lhe cognominaram um Elias da restauração,
Na
Alemanha é tido como herói nacional
E
para alguns um proto-nazista radical.
Não
conheço seus pecados ocultos
–
Apenas se sabia pecador como nós –
Mas
repito com louvor resoluto
O
que ele dizia com enérgica voz:
“Solus Christus[2]”,
“Sola scriptura[3]”,
Nada
de teologia obscura!
Ele
morreu depois de uma longa viagem
Para
levar a uma contenda a concórdia
E
expirou em rendição total a Deus,
E
assim termina a nossa história!
Soli Deo gloria[6]!
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