terça-feira, 23 de março de 2021

JOHANN SEBASTIAN BACH

Órfão aos 10 anos, criado pelo irmão,

Debruçado ao órgão, ao cravo, ao violino,

Na igrejinha luterana, os joelhos em oração,

Ou – sua maior e tresloucada devoção –

Dos dedos-raízes às teclas,

Das cordas-carícias aos hinos,

Dos ouvidos atentos aos anjos sibilinos.

 

Casado co’a prima Maria Bárbara: sete filhos;

Viúvo aos 35, casado com Anna Magdalena,

Com metade da sua idade: treze filhos;

Em meio aos choros e cueiros, o tinteiro e a pena,

A despensa é efêmera, mas o talento é perene:

Haja paciência, haja dinheiro, haja pênis!

 

O duque Wilhelm não lhe dá valor,

O príncipe Leopold sim, mas paga menos,

O conde Hermann sofria de insônia:

Só sua música lhe devolvia nervos amenos.

Ninguém sabia ainda que o prodígio da Saxônia

Traria ao mundo a Tocata e Fuga em Ré Menor,

A Paixão Segundo São Mateus, a Ária na corda Sol,

Jesus Alegria dos Homens, o Cravo Bem-Temperado,

Os Concertos de Brandenburgo, o Minueto em Si Bemol.

 

Morreu cego, mereceu uma nota de rodapé num jornal.

Ficou esquecido até Mendelssohn trazer-lhe à luz do dia,

Mais de um século depois, num festival.

Se não, conheceríamos sua harmonia

Que fundou os princípios tonais da música ocidental?  

 

Quantos aprenderam, canhestros, o piano

No Pequeno Livro de Anna Magdalena Bach?

E não disse o filósofo amargo e poeta ateu

Emil Ciorán, que odiava a todos e a Deus,

Que a única coisa que amava no Cristianismo

Era a música de Johann Sebastian Bach?

 

Se queres uma prece sincera em forma de música,

Se queres conhecer o êxtase em empírea acústica,

Tenta ouvir calado o humano trinado do Mestre de Eisenbach!




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