“Ensina aos teus, Espírito Divino,
Dissipa as trevas destes corações;
E com a luz do teu celeste ensino,
Vem aclarar as santas instruções.
Aviva em nós as forças da memória,
Pois sempre mais queremos conhecer
O Rei dos céus, o Cristo cuja glória
Enleva os santos anjos de prazer. Amém.”
(Hinário Novo Cântico- Hino nº 3).
Nascida
em Nottingham,
Terra
mística de Robin Hood,
Em
que as charnecas se espalham
E
as nuvens as cobrem amiúde.
A
mãe morreu pouco depois do parto.
A
avó lhe preparou para um internato.
E
a menina lia sobre missionários em terras distantes
Como
se fosse sua história em quadrinhos na estante.
Ela
foi a aluna mais brilhante:
Poetisa,
pintora, pianista, poliglota.
Na
sala de costura, cosia roupas para pobres errantes
E
acompanhava nas revistas as dores dos povos à sua volta.
Já
mocinha, considerava a hipótese de se casar
(Desde
que não fosse com um médico ou pastor!)
Mas
queria a ironia do destino a desafiar
(Ou
melhor, os desígnios do Senhor),
E
seu coração outro enredo iria urdir,
Como
melhor se verá a seguir.
Aconteceu
que seu irmão Cecil, tuberculoso,
Fora
enviado ao Egito para inspirar outros ares,
Como
se a terra da Esfinge e do Quéops poderoso
Pudesse
lhe insuflar melhoras dos pesares.
Todavia,
as hemoptises dos pulmões escavados
Levaram
o pobre rapaz a óbito prematuro.
Mas,
antes disso, o pai William, desesperado,
Viajava
à Síria p’ra chamar um doutor mais maduro:
Robert
Reid Kalley, que já perdera a esposa tísica,
Tentaria
algum último tratamento de esperança
Que
pudesse devolver alguma higidez física
Ao
jovem que perecia lentamente em sofregância.
Tudo
inútil! Oh, mais um golpe vil
Da
morte que a nossos amados vem interpor abismos!
‘Té
que um dia atravessemos o derradeiro alcantil
E
alcancemos o porto fulgurante dos remidos!
Depois
da perda tão pesada e tão sentida,
Todos
voltaram à Inglaterra alvissareira,
E
Sarah, agora impressionada e comovida,
Ouvia
o doutor sobre a Ilha da Madeira.
Havia
um trabalho cristão lá a ser feito,
E
ele o fizera sob intensas perseguições.
Sarah
a cada dia o olhava com mais respeito
E
o coração ansiava por mais aproximações.
Em
breve o noivado, depois o casamento.
Os
dois partem para os Estados Unidos
Para
trabalhar com os madeirenses em afugento,
Que
tanto necessitavam de cuidado em seus espíritos.
Assim
ia dominando pouco a pouco o português.
A
última flor do Lácio caía em suas mãos
E
já ia se tornando linhas de versos a coser
Em
tecidos entrelaçados, decorados de artesãos!
Então
chegou a hora de virem ao Brasil:
Aportaram
em Petrópolis, cidade do Imperador.
Criaram
uma Escola Dominical para o público infantil,
Contando
a história de Jonas e da baleia, do mar vingador...
Assim
nasceu a EBD aqui, sob protestos...
Quantos
não reclamaram que era dia de guarda!
Como
assim, ensinar, estudar, criar projetos,
No
domingo, o shabbat dos cristãos, em
que a hora retarda?
Mas
ela continuou...
Depois
pensou em criar um grupo de senhoras.
“Mas como assim, mulheres casadas não
saem sozinhas!”
E
enfrentando tudo, ela reuniu onze varoas espectadoras
Para
sua palestra sobre Eva, que não se ateve a seu posto de rainha,
Trocando
as flores do Éden puro e a companhia do Deus vivo
Pelas
mentiras da serpente e a ambição do anjo caído.
Assim
era fundada a União Auxiliadora Feminina,
Dando
espaço na obra às irmãs antes tão tímidas,
Que
mal podiam deixar a opressão dos lares sufocados
Para
servir em tantas funções neste mundo necessitado!
Mas
ela continuou...
Organizou
os Salmos e Hinos
–
O primeiro hinário evangélico brasileiro –
Traduzindo,
compondo, ministrando ensinos
Em
classes de música, culinária, mas de Bíblia primeiro...
O
Conselho de Instrução Pública
Escolheu
seu livro Alegria da Casa
Para
instruir as moças casadoiras
A
manter a arte e o amor como viva brasa,
A
erigir valores como paredes sólidas,
A
cuidar com esmero das crianças ávidas.
Depois
de muitos anos que escoaram,
Os
dois velhinhos já cansados,
Deixaram
este país melhor do que o encontraram,
E
buscaram repouso na Escócia dos reformados,
Onde
chamaram sua casinha de Campo Verde,
E
passaram seus últimos dias abraçados.
Ele
morreu.
Ela
ainda fundou a missão Help for Brazil
(Não
conseguia pensar só em sua dor,
Mas
vivia para o próximo e para doar amor...)
E
quase vinte anos depois do marido
Foi-se
ela também ao vale conhecido
Que
fica além do Jordão a atravessar-se
Como
última luta do cristão a glorificar-se!
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