Você
ouviu os gritos? Ouviu o choro
de
corça assustada, de menina escondida,
que
já sofre feito mulher a tragédia em coro,
com
milhões de outras tantas no solo da vida?
A
menina só tem onze anos,
tem
a beleza cândida da pureza,
tem
mãozinhas co’as marcas da pobreza,
E
cuida dos irmãozinhos tão lhanos.
Luigi,
o pai, morreu de malária.
Assunta,
a mãe, ficou com os filhos.
A
família perdeu a fazenda de que era proprietária
E
foi obrigada a lavrar para os vizinhos.
Mudaram-se
para La Cascina Antica,
em
companhia da família Serenelli,
a
qual nada lhes trouxe de serenidade amiga,
mas
antes, uma tragédia que se repele.
A
cada dia, o rapaz Alessandro,
então
com vinte anos completos,
enxergando
na menina a mulher que se formava,
ardia
em desejos insanos e indiscretos.
Pelos
caminhos dos campos, pelos cômodos da casa,
Assediava
insistente a criança que fugia,
e
o amor em leves chamas se fazia em ódio em brasa,
a
tomar-lhe o espírito em púrpura agonia.
Com
rubras faces de paixão animalesca,
o
rapaz invade a casa portando adaga,
e
a menina, que lhe resiste à libido grotesca,
larga
as linhas de costura e reza tristes palavras.
“Que te passa pela cabeça? Quereis o
inferno?
Ofendes a teu Deus! Manchas-te de pecado
hediondo!”,
mas
ele a nada ouvia, como se alma, enregelada de inverno,
Estivesse
surda por demoníaco estrondo...
Não
conseguindo atingir o carnal intento,
ele
a apunhala por onze vezes.
Ela
se arrasta até a porta, em abundante sangramento,
para
levar outras facadas, por mais três vezes.
Quando
finalmente a encontraram caída ao chão,
ela
lembrava a virgem Santa Inês, ou Santa Cecília, em suas comoções,
e
os médicos se surpreendiam de ainda lhe bater o coração,
tendo
lesões na garganta, no diafragma, no peritônio e nos pulmões.
Ela
ainda viveu por mais vinte horas,
a
tempo de dizer que perdoava seu agressor.
Ele
foi condenado a trinta anos de prisão, sem demora,
e
o povo queria linchá-lo, em furioso clamor.
Enquanto
cumpria pena, Maria lhe apareceu em sonho,
e
lhe entregou flores, que em suas mãos se queimavam.
Em
outro sonho ela lhe teria dito: “Se eu já
te perdoei,
Por que tu não te perdoas?”, e seus olhos marejavam...
Quando
foi libertado e seguiu seu caminho,
Alessandro
pediu perdão à mãe da menina,
ingressou
no Convento dos Frades Menores Capuchinhos
E
ali serviu, como porteiro e jardineiro, até o fim da sua vida.
Ainda
em vida, ao lado de Assunta,
ele
assistiu à missa de canonização da menina,
proclamada
santa pelo Papa Pio XII,
personificação
de castidade, perdão e dignidade feminina.
Quando
saiu da Basílica de São Pedro, à praça multitudinária,
o
Papa perguntou a meio milhão de jovens que ali tinham orado,
se
estes pretendiam lutar pela castidade enquanto necessária
e
pela bênção da sexualidade sadia e vivida do modo adequado.
A
resposta foi um sonoro “sim!”, que
esperamos verdadeira,
especialmente
em tempos de banalização do que é belo e sagrado,
em
tempos de prostituição do corpo e do espírito, sem eira nem beira,
a
alma se entrega à escravidão dos sentidos e do idolatrado.
Em
tempos de abuso, de exploração, de pedofilia crescente,
que
essa mensagem, infelizmente não única neste mundo,
seja
um pequeno farol, ainda que triste e tremeluzente,
a
lembrar que o pecado é mais terrível do que se pensa,
e
leva o ser humano ao mais escuro do profundo!
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