Flor
pisada da Polônia,
Pobre
lírio do campo,
Folha
resistente entre as begônias,
À
noite densa o último pirilampo.
Tua
pobreza só te permitiu estudar três anos incompletos.
Aos
dezesseis, foste embora de casa,
Trabalhar
como doméstica, atendente de loja, para ter um teto
E ajudar
a família que continuava em vida rasa.
Aos
dezenove, num baile em que estavas com tua irmã,
Vês
o Cristo desfigurado em chagas a indagar-te:
“Até quando me evitarás? Até quando
viverás em ilusão malsã?”
E
de lá correste, ofegante, por toda parte,
Até
sentar-te na Catedral de São Estanislau Kostka
E
ouvires uma voz que te mandava à Varsóvia.
Eras
considerada muito ignorante para ser freira.
No
começo, só queriam te aceitar para a cozinha.
Tuas
visões eram tidas por neuroses e besteiras
E ninguém
sabia do tesouro que te entretinha.
Definhando,
tuberculosa, transferida de mosteiros,
Ias
anotando em teu diário o que vias,
Por
ordem de teu confessor, Michal, o conselheiro,
Foste
por fim levada a sério em tuas agonias.
Em
tuas visões, o Cristo estava em vestes alvas,
De
seu coração saíam feixes de luz branca e vermelha,
Seu
título era da Divina Misericórdia, e
nas barras
Do
quadro antevisto se lia “Senhor, eu
confio em vós!”, de esguelha.
Esta
foi a imagem imortalizada pelo pintor Adolf Hyla,
Hoje
tão popular em igrejas de todo o mundo,
Mas
ela só queria significar no que cintila
Que
se Deus não se apiedar do pecador imundo,
Nada
nesta Terra irá lhe adiantar...
Ainda
pouco antes de morrer, num continente em discórdia,
Com
apenas trinta e três anos, tua história se encerra,
Predisseste
que os homens veriam a mais cruenta de suas guerras,
E os
homens saberiam então o que custa a falta de misericórdia...
De
fato, no mesmo local de teu leito de morte,
Na
Cracóvia, se ergueram guetos de judeus e eslavos,
Mortos
e empilhados na neve como cães do norte
E todo
o orbe sofreria a Segunda Guerra, seus mutilados e escravos.
Disto,
tu foste poupada, mas não em sonhos,
E tuas
orações não foram suficientes
Para
aplacar a ira dos tanques nazistas medonhos,
Das
rosas nucleares pelos ares, e da boca sem dentes
Dos
fornos crematórios de homens secos e tristonhos.
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