quarta-feira, 6 de maio de 2015

SANTA FAUSTINA KOWALSKA



Flor pisada da Polônia,
Pobre lírio do campo,
Folha resistente entre as begônias,
À noite densa o último pirilampo.


Tua pobreza só te permitiu estudar três anos incompletos.
Aos dezesseis, foste embora de casa,
Trabalhar como doméstica, atendente de loja, para ter um teto
E ajudar a família que continuava em vida rasa.


Aos dezenove, num baile em que estavas com tua irmã,
Vês o Cristo desfigurado em chagas a indagar-te:
“Até quando me evitarás? Até quando viverás em ilusão malsã?”
E de lá correste, ofegante, por toda parte,
Até sentar-te na Catedral de São Estanislau Kostka
E ouvires uma voz que te mandava à Varsóvia.


Eras considerada muito ignorante para ser freira.
No começo, só queriam te aceitar para a cozinha.
Tuas visões eram tidas por neuroses e besteiras
E ninguém sabia do tesouro que te entretinha.


Definhando, tuberculosa, transferida de mosteiros,
Ias anotando em teu diário o que vias,
Por ordem de teu confessor, Michal, o conselheiro,
Foste por fim levada a sério em tuas agonias.


Em tuas visões, o Cristo estava em vestes alvas,
De seu coração saíam feixes de luz branca e vermelha,
Seu título era da Divina Misericórdia, e nas barras
Do quadro antevisto se lia “Senhor, eu confio em vós!”, de esguelha.


Esta foi a imagem imortalizada pelo pintor Adolf Hyla,
Hoje tão popular em igrejas de todo o mundo,
Mas ela só queria significar no que cintila
Que se Deus não se apiedar do pecador imundo,
Nada nesta Terra irá lhe adiantar...


Ainda pouco antes de morrer, num continente em discórdia,
Com apenas trinta e três anos, tua história se encerra,
Predisseste que os homens veriam a mais cruenta de suas guerras,
E os homens saberiam então o que custa a falta de misericórdia...


De fato, no mesmo local de teu leito de morte,
Na Cracóvia, se ergueram guetos de judeus e eslavos,
Mortos e empilhados na neve como cães do norte
E todo o orbe sofreria a Segunda Guerra, seus mutilados e escravos.


Disto, tu foste poupada, mas não em sonhos,
E tuas orações não foram suficientes
Para aplacar a ira dos tanques nazistas medonhos,
Das rosas nucleares pelos ares, e da boca sem dentes

Dos fornos crematórios de homens secos e tristonhos. 




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