Em
berço tranquilo da família Martin,
Nasce
Terèse, rodeada de irmãs.
O
pai se deu bem com os relógios.
A
mãe se aprumou com os bordados.
Não
faltava conforto no velho sobrado,
Nem
devoção ao martirológio.
A
família não faltava à missa matinal
Nem
se privava de leituras devocionais.
A
alegria do lar era afável e jovial
E
a menina era totalmente apegada aos pais.
Mas
haveria um dia em que os sonhos se desfariam
E
se substituiriam por outros mais difíceis.
A
maturidade exige um tanto de sofrimento (quem o negaria?)
E
a vida nos permite só um tanto de planos possíveis...
A
mãe morre de câncer no seio,
O
pai, cada vez mais soturno.
As
irmãs, uma a uma, saem de seu meio,
Ingressando
no Convento do Carmelo, por seu turno.
Aos
quinze anos, ela quer também lá ingressar.
Sua
idade não o permite, “criança demais pra buscar o Céu”.
Parte
em peregrinação a Roma com o pai, a se admirar
Com
as portentosas obras de Michelangelo e Rafael.
Mas
o grande intento da viagem é rogar a permissão
Do
Papa Leão XIII, pra ser noviça de clausura e oração.
Ela
consegue, finalmente, o seu propósito,
E
desde cedo suporta rigores e pessoas nada agradáveis.
Mas
tudo aceita sabendo que o amor é insólito,
E que
mais divino é amar os inimigos que os amáveis.
Depois
teria de suportar a morte do pai,
E
mais dezoito meses de uma noite na alma,
A
descrença do abismo em que cai,
A
última prova de fogo do crente sem calma,
A
derradeira morte do ego em esperneio,
Até
o abandono ao Amor da Graça do Cordeiro!
Só
assim compreendeu.
E
a rogo de sua irmã e de sua madre superior,
Anotou
em seus diários o caminho que Deus lhe deu:
Chamou-o
“pequena estrada”, “estrada da infância”, “abandono ao amor”.
Tratava-se
do fazer criança,
Reconhecendo
seu pecado, sua pequenez e mesmo os medos seus,
Depositando-os
diante do Pai, e sem tardança,
Elevar-se
aos Céus, não por seu braço, mas pelos braços de Deus!
Identificar-se
com os méritos do Filho, com suas chagas,
Porque
o preço foi pago por Ele e por mais ninguém,
E
por fim preencher-se do Espírito, já que se sabe nada,
Fazendo-se
da Misericórdia total refém!
Esse
foi o caminho que ela deixou ao mundo,
Mais
palatável e nada impossível
A quem
buscava a santidade segundo
Os
santos do passado inatingível.
Ela
parecia mais próxima e simples
E
em vida nada pareceu ter de especial
Que
a diferenciasse de outras vides
A crescer
nas vinhas do Eternal.
Seus
escritos, reunidos em livro,
Ganharam
o nome de “História de uma Alma”,
O qual
às vezes releio como um néctar vivo
De
que se bebe contemplando a luz da alva.
Por
fim, a tuberculose a levou
Aos
vinte e quatro anos de idade.
A
imagem parca que nos deixou
Vem
de poucas fotos
e manuscritos
de uma complexa simplicidade.
Antes
de morrer, dizem que ela prometeu
Uma
chuva de rosas sobre a cidade.
E dizem
que de fato isso ocorreu,
Como
se lá do céu ela confirmasse que era verdade
Tudo
que em vida creu
Com
singeleza e amabilidade.
Deram-lhe
o título de patrona das missões,
Porque
orava pelas dificuldades dos missionários.
E
de co-padroeira da sua amada França,
Ainda
que mui distante de sua colega de armadura e lança:
Joana
D’Arc, a camponesa à frente dos exércitos libertários...
E ainda
mais alguns anos depois,
João
Paulo II a consagrou Doutora da Igreja,
Ao
lado de Catarina de Siena e Teresa D’Ávila,
Para
agigantar mais o rol de mulheres que com presteza
Abrilhantaram
a Teologia e portaram um’alma impávida...
Lisieux
ainda recebe milhões de turistas
A
tentar seguir-lhe os passos miúdos,
Mas
creio que a melhor forma de entender suas pistas
É se
entregar a Deus, absolutamente, em doces cânticos mudos.
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