terça-feira, 12 de maio de 2015

SANTA JOSEFINA BAKHITA


Candura de ébano,
Sorriso de marfim,
Braços de guerra,
Paz sem fim.


Negrura de solo ancestral,
Marcas nas costas, lembrança breve,
Vestes de moura, guerreira tribal,
E o coração, tão leve.


“Afortunada” é seu nome,
Desgraçada sua história.
Mas ela via só o que dizia seu nome
Não o que doía na memória.


Porque em dor o mundo todo sobeja
E ela não era a única que sofria.
Seu passado (dinka, dagiu, beja?)
Não importava mais numa Itália tão fria.


Raptada ainda criança,
Marcada, torturada, humilhada,
Cresce escrava em África, sem esperança,
E levada a Cartum, a capital admirada,
Vendida no mercado El Obeid, em tráfico profano,
Onde lhe compra providencialmente o cônsul italiano.


Vendida por várias vezes,
Submetida a vários senhores,
Ainda não sabia ela, entre aqueles,
Quem era o Senhor dos senhores.


Encontrou mais paz como ama-seca de Mimina.
E quando se mudou a família da menina
De novo para África, por causa de negócios,
Ela quis ficar, pois cumpriria outros votos.


144 cicatrizes trazia no corpo frágil,
E na alma, acrisolada pelo sofrimento,
Trazia da maneira mais submissa, terna e ágil,
Um grande êxtase e contentamento.


“Irmã Morena”, que tantos anos foi escrava,
Conhecia a verdadeira liberdade,
Em Cristo, que nos salva
De nossa própria impiedade.


Foi aceita pelas Irmãs Canossianas de Veneza,
E ali exerceria por cinquenta anos
Com humildade, caridade e presteza,
A missão que Deus lhe dera entre os santos.


Chamava a Deus “o Meu Patrão”,
Por quem foi criada para adorar-Lhe.
E mais e mais lhe preenchia o coração
Apenas servir-Lhe e dedicar-Lhe
O seu canto rústico e puro em oração.


A que sofreu tanto só pensava no sofrimento alheio.
Que esta possa ser uma lição para nossos dias,
Em que tanto se afunda no próprio ego e meio,

Que nada sobra para o amor produzir sua alegria!



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