Candura de ébano,
Sorriso de marfim,
Braços de guerra,
Paz sem fim.
Negrura de solo ancestral,
Marcas nas costas, lembrança
breve,
Vestes de moura, guerreira
tribal,
E o coração, tão leve.
“Afortunada” é seu nome,
Desgraçada sua história.
Mas ela via só o que dizia
seu nome
Não o que doía na memória.
Porque em dor o mundo todo
sobeja
E ela não era a única que
sofria.
Seu passado (dinka, dagiu,
beja?)
Não importava mais numa
Itália tão fria.
Raptada ainda criança,
Marcada, torturada,
humilhada,
Cresce escrava em África, sem
esperança,
E levada a Cartum, a capital
admirada,
Vendida no mercado El Obeid,
em tráfico profano,
Onde lhe compra
providencialmente o cônsul italiano.
Vendida por várias vezes,
Submetida a vários senhores,
Ainda não sabia ela, entre
aqueles,
Quem era o Senhor dos
senhores.
Encontrou mais paz como
ama-seca de Mimina.
E quando se mudou a família
da menina
De novo para África, por
causa de negócios,
Ela quis ficar, pois
cumpriria outros votos.
144 cicatrizes trazia no
corpo frágil,
E na alma, acrisolada pelo
sofrimento,
Trazia da maneira mais
submissa, terna e ágil,
Um grande êxtase e
contentamento.
“Irmã Morena”, que tantos
anos foi escrava,
Conhecia a verdadeira
liberdade,
Em Cristo, que nos salva
De nossa própria impiedade.
Foi aceita pelas Irmãs
Canossianas de Veneza,
E ali exerceria por cinquenta
anos
Com humildade, caridade e
presteza,
A missão que Deus lhe dera
entre os santos.
Chamava a Deus “o Meu
Patrão”,
Por quem foi criada para
adorar-Lhe.
E mais e mais lhe preenchia o
coração
Apenas servir-Lhe e
dedicar-Lhe
O seu canto rústico e puro em
oração.
A que sofreu tanto só pensava
no sofrimento alheio.
Que esta possa ser uma lição
para nossos dias,
Em que tanto se afunda no
próprio ego e meio,
Que nada sobra para o amor
produzir sua alegria!
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