Mônica, já avançada em idade,
Única cristã da casa,
Orava com dor e piedade:
“Meu filho não perecerá”.
E seu filho, Agostinho,
Vivia preso aos prazeres do mundo,
Encantado com seu incerto destino.
Agostinho conhecera os leitos das meretrizes
E os meandros enganosos da retórica,
Os sonhos divagadores dos neoplatônicos,
Os maniqueus e sua bipartida ótica.
Conhecia mistérios de feitiçaria,
Pergaminhos tantos de pura vaidade,
Frequentara banquetes de idolatria
E vivia com concubina de tenra idade.
Já sendo pai, não podia explicar ao filho
O que era a Verdade, posto ainda não o saber,
E já em tragédia se convertia o seu idílio
Num palco entrevado cavado no fundo do seu ser.
Foi quando ouviu a terna pregação de Ambrósio
Sobre o Deus Absoluto que tudo vê
E sonhou com um menino com um livro sob uma figueira
A lhe dizer em desafio: “Toma e lê!”
Ah, riqueza das riquezas,
Ó profundidade do pensamento!
As Escrituras se lhe abriram então em correntezas
Como a vista do cego que Jesus salvou do desalento!
E Mônica agora, viúva e aos pés da morte,
Sussurrava em vitória: “Meu filho não perecerá”.
Ao morrer-lhe a mãe, Agostinho, comovido,
Enterra-a em seu lar natal e ali permanece
Em vida solitária, circunspecto, absorvido,
Olhando à sua volta tudo que perece.
E já agora, batizado nas águas,
Ordenado bispo de Hipona,
Preenchido seu abismo, curadas suas chagas,
Inicia sua heróica intentona.
Escrevinha sem tréguas sobre a alma, sobre o Reino,
Sobre o livre-arbítrio, sobre a Graça, sobre a Trindade.
Conhecido como o maior dos Doutores da Igreja,
Só a Deus atribui sua capacidade.
E assim permaneceu até que, velho e extenuado,
Enquanto os bárbaros sitiavam sua cidade,
Exortava os fiéis à esperança e à alegria,
Até seu último suspiro em diáfana sobriedade.
E foi assim que depois de revoltas veredas
E de estradas sem rumo,
Deus retomou para Si
Seu irrequieto e brilhante aluno.
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