Lo! thus, by day my limbs, by night my mind,
For thee, and for myself no quiet find.
SHAKESPEARE
Eu vejo cortinas de fumaça
Desfazendo-se pela cidade
Duendes brincando com angústias
Como pássaros livres
E chove continuamente
Talvez desesperos se calem
O tempo está perdido
As horas se quebram
O tempo é pecado sem cura
A vida, um rio de lágrimas e narcóticos
Lembranças amargas são traumas
Lembranças alegres, saudade
O que fui era sou seria serei nunca serei
Mesclam-se na tormenta
Deste mar de náufragos
Que é o coração solitário
Talvez o sábio tenha errado
O anjo precipitou-se das alturas
Uma menina chora em silêncio
Uma boneca de porcelana partiu-se contra o chão
A dama de negro chama pelos anciãos
O protetor carrega almas para a luz
Os amantes quebram a ordem natural das coisas
Ousam sonhar com eternidade em suas prisões de carne
Os deuses escolhem e jogam
Estátuas de Ártemis ganham vida
A pedra ganha forma
Liberta su’alma nas mãos do escultor
A verdadeira rosa nunca morre:
Viva, oferta aroma e beleza
Morta, é alimento para o solo
Estrada de cascalhos circundada por frondosos jardins
Mas os seres insistem
Como quem se entrega à paixão ou ao carrasco,
Por ilusão ou melancolia,
A vida prossegue, como há-de ser Hades
Guerras, revoluções e atentados
Golpes de Estado e atos institucionais
E outras cousas mais
Que não têm nome mas que machucam
Será que agora a alquimia dos planetas repousa?
E o quimérico sonho é acalentado por Daugi?
As notas do piano são tristes
Não, não me faça ouvi-las novamente.
Será que em algum lugar
Uma princesinha chora?
Sua senda se perde no abismo
Suas lágrimas se perdem na chuva
Não se pode correr para os braços de alguém...
Uma formiguinha atravessa as quatro dimensões
Ela espera por minha misericórdia
Ela me pede para abandonar minha arte...
Há uma formiguinha morta em páginas manchadas de sangue!
Dorme, incauto pungente
Dorme nos braços dos teus
Dorme, Carlos Vicente
Dorme, pelo amor de Deus!
A cátedra dos poetas é tão triste!
Shakespeare tenta me ensinar algo
Como obsessão e loucura
T.S. Eliot olha-me com jeito sisudo
Emily Brönte corre pelos infinitos Wuthering Heights
George Gordon Byron embriaga-se de palavras e mulheres
Bram Stocker e Mary Shelley empunham as pás
Tentam desenterrar os corpos da Abadia de Westminster
Charles Dickens só espera repousar
Assim como Robert Browning
As ninfas do Tâmisa precisam flutuar sobre o porto de Liverpool
Mas a Inglaterra é tão triste!
E viajando com Jonathan Swift
Morrendo nas Highlands da Escócia
Nas ruas de Belfast, todo o Reino em ruínas,
Nos pubs londrinos de espíritos errantes
Eu me redimo!
Eu preciso terminar meu poema
Preciso preciso preciso
E preciso fugir
Mas está chovendo tanto hoje...
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