segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Tristeza Sem Título

Hoje é outro dia para acordar,
Andar num caminho a passos tortos,
Nada a perder...dentro de mim.
Tento dizer “bom dia” para o Sol,
Para os pardaizinhos e para a grama
Que amortece meus pés cansados e despidos
Como nuvens verdes de esmeralda;
E ouço a interpretação de uma música calma num piano,
De um louvor quase náufrago a Maria,
De sinos que desaparecem no abismo,
De um latinismo quase romano de tão épico.
Tudo prossegue e se anula:
A terra semeada de sangue;
Os homens sem Deus;
Os bandidos, que morrem cedo;
As marafonas, que rodopiam pelos cabarés;
As esposas, que se decepcionam;
Os maridos, que se embriagam;
As viúvas, que se abraçam a travesseiros;
Nosso todo repleto que se deteriora em meio ao grande vazio;
A púrpura e o roxo da calamidade do pôr-do-sol;
Deixar alguém partir sem ter dito
(Quer tristeza pior do que esta?!)
São todos delírios, lírios da mente.
Eis uma verdade.
Assim me compreendes.
Assim ecoa meu langor em teu cérebro.
Triste, mas faz sentido.
Eu me exausto na procura do abrigo
E atropelo o ar à minha frente.
Eu rezo com o silêncio
A ternura do meu apaixonado ser.
Eu recebo as ordens das virgens das alturas
E canto no mundo partido
Enquanto olho para a mulher que chora ao meu lado.
Eu colho flores para ela,
Eu recebo a hóstia e o dom da inspiração,
Eu relembro o que aprendi na escola
E trago tudo ao meu coração,
Eu me lembro de uma canção de formatura,
Eu me lembro da libertação de tudo que é vil,
Eu uno corações batendo juntos
Dos meninos do Brasil!
Eu recebo raios de despertar em meu rosto
Senhor, tende piedade de nós!
Como trégua e tranqüilidade em momentos a sós,
Como a inocência perdida, de volta no orvalho da manhã.
Como tua vida, aqui.
Eu temo a eternidade assim.
Eu temo a guerra civil.
Mas eu preciso ir.
Os pombos brancos do Vaticano
Migrarão até me acordar.
As andorinhas do jovem Francisco de Assis
Voarão alegres para longe da minha saudade,
triste na fria pracinha;
As mariposas escarlates seguirão a mesma sina,
Para alimentar os texugos no outro dia
E brigar com os farrapos de minh´alma
E me embriagar com o vinho que faz minha cabeça pesar.
Ninguém notará o cavaleiro
Lutando contra as ondas do mar
Até desaparecer debaixo delas;
Um´alma cheia de morte sufocada
Num coração cheio de vida
Que batia junto ao da amada, ondina do Reno,
Desvirginado pelo intenso palpitar dos sonhos.
Doze paladinos me aplaudem nos Wuthering Heights:
Magia inexplicável de ser poeta!!!
Mas eu fali a cada vão instante
E meu emprego é aparar a relva
Rastejando sobre ela;
Guardar águas profundas para Netuno,
Encontrar alguém feliz nadando,
Quem sabe um tritão ou um simples espírito errante
Que bóia sob o crepúsculo
Descobrindo suas emoções!
Meus dedos ásperos
Não tocam mais a lã macia dos cachos lúbricos;
Minha caneta de cristal quebra-se,
Calíope me abandonou com as tágides de Camões,
E Erato olha angustiada para mim, chorando,
Como se a dizer “nunca mais”
E os quatro ventos dizem “vá embora!”
E eu fui...





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