terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Francisco de Assis

O pobrezinho de Deus,
Il poverello,
Filho do rico Pedro de Bernardone
– Comerciante, influente, dono de castelo – 

Foi lutar contra a Perúgia,
Que em guerra se levantava contra Assis,
E depois quis lutar na Puglia,
Quedando pálido em delírios febris.

Em prece na igrejinha de São Damião,
Ocorreu-lhe uma visão
Do Crucificado que lhe ordenava a sina:
“Vai e repara a minha Igreja
Que está em ruínas!”
E trocando seus ricos trajes
Pelos mendigos andrajos,
Encontra em tudo a beleza
Dos filhos do Criador.

Irmão Sol:
A lhe dar calor;
Irmã Lua:
Farol de amor;
Campinas de flores:
Graça de cores;
Pássaros cantores:
Servos levitas em seus langores;

Irmã pobreza:
A que mais preza,
Porque a tudo despreza
E por isso é rainha de tudo!

Irmão fogo: que o aquece
E que é perdoado se de leve o queima;
Irmão vento: de quem não se esquece,
Mesmo se torna em tempestade que teima;

Irmã água:
“Que é muito útil, humilde, preciosa e casta”;
E por fim a Irmã morte corporal:
Da qual nenhum humano vivente escapa.

Em santa loucura, a sabedoria de Deus
– Que é loucura para nossos vis amores –    
Abraçou o mesmo louco e santo Sermão
Que o Senhor pregou no Monte, invertendo nossos valores.

E queria levar amor ao ódio,
Ofensa ao perdão,
Fé à dúvida,
E à discórdia a união.
Queria levar verdade à mentira,
Esperança ao desespero,
Alegria à tristeza
E luz às trevas do desterro.

Preferindo aos outros em honra,
Num amor sem confins,
E assim fazendo, irmãos,
Parecia viver numa alegria sem fim.
Falando docilmente aos porcos,
Calando gentilmente às andorinhas,
Andava por terras distantes,
Pregando às gentes e às codorninhas.

Abraçava os leprosos,
Acolhia os faltosos em descrédito,
E para tornar o Natal mais intenso e mais próximo,
Inventou o primeiro presépio.

Amou tanto, até a extenuação,
Que recebeu estigmas como os de Cristo,
E em dores persistia em sua pregação,
Numa santa loucura jamais vista.

Amava Clara com amor puro,
Dum amor que não precisa de carne nem de posse,
E lhe permitiu criar a Ordem das Clarissas,
Para que as mulheres ingressassem nesse Reino precoce.

Seguido em toda parte,
Também amava quem não podia acompanhá-lo na eira,
E para estes que continuavam em seus afazeres mundanos,
Criou sua Ordem Terceira.

A Ordem Primeira, dos seus mais fiéis seguidores:
Egídio, Gil, Ângelo, Rufino, Masseo, Leão,
Que espalhavam novos ares
Numa Europa desiludida em erosão.

E todos queriam ouvir-lhe a sabedoria
E a voz da única verdadeira bondade possível,
A que flui diretamente de Deus
– Só presenteada aos mais amados Seus –

Até que um dia, quase cego,
Depois de uma dolorosa cirurgia,
Ele murmurou em angélica voz seus sonhos alvos,
E expirou na Porciúncula, quase sem ego,
Indo viver no Irmão Céu, morada dos salvos. 
Mas quando eu olho para o Poverello,
– O pobrezinho de Deus – 
Eu fico a me perguntar:
– Senhor, como te apraz,
Como podemos ser dignos de ser instrumento da Tua Paz?


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