terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Conselhos a Um Jovem Poeta (das "Canções de Orfeu")

Prometa pra mim
Que você não repetirá os erros de seus mestres,
Inclusive os meus.

Prometa pra mim
Que você não copiará os gregos
E nunca falará dos cavaleiros medievais.

Prometa pra mim
Que você não ficará ameaçando se matar
Nem falará das revoluções liberais.

Prometa pra mim
Que você nunca falará das duas Grandes Guerras
Nem da ditadura militar,
Que não tomará posturas de esquerda
Nem repetirá que a espécie humana atingiu seu limiar.

Prometa pra mim
Que você não amará mulheres idealizadas
Nem ficará repetindo que a vida não faz sentido
Sem correr atrás do sentido dela
E sem deixar de olhar para o próprio umbigo.

Prometa pra mim
Que você não imitará os épicos de Homero e de Camões,
Os sonhos de Dante e de William Blake as visões,
Os versos livres de Whitman e o spleen de Baudelaire,
As metáforas apocalípticas de Eliot
E os galicismos de Apollinaire.

Prometa pra mim
Que você não quererá dar uma de cosmopolita
Como Vinicius e Oswald de Andrade,
Nem cairá em clichês de enjeitado de cidade pequena
Como Cora Coralina e Carlos Drummond de Andrade.

Prometa pra mim
Que você não lamentará o que nunca veio a acontecer
Como o fazia Manuel Bandeira,
Nem testará o limite do mau-gosto
Como os dadaístas e suas besteiras.

Prometa pra mim
Que você não ruminará o passado como os românticos,
Que você não será chato como os parnasianos,
Nem excêntrico como os simbolistas,
Nem escreverá sonetos como os arcadianos,
Nem poemas-piadas como os modernistas.

Prometa pra mim
Que você não desenhará poemas,
Só pra encher o papel dum jeito diferente,
Como o quiseram os concretistas,
Nem fará poemas só pra se vingar deles e ser diferente
Como o fizeram os neo-concretistas.

Prometa pra mim
Que você não brincará com etimologias idiotas,
Nem com neologismos que ninguém entende,
Como os acadêmicos da sua universidade hipócrita.

Prometa pra mim
Que você extrairá com esforço o melhor do seu coração,
Que você irá compor seguindo sua alma e seus signos,
Que você não mimeografará os poetas da redemocratização 
E que fará o impossível
Para ser um poeta digno.

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