segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

As Últimas Palavras de Um Gênio

Certo dia pensei num amigo
Num gênio que nem conheci
Cuja influência fez-me viver
Quando sua alma eu descobri:

Ludwig van Beethoven
Gênio incomparável
Mente de brilho alto
Artista inigualável

Somente um mero mortal
Do século passado
Sua música é fatal
Sua obra é um legado

Atormentada existência
De um sofrido homem louco
Sua tragédia não foi branda
Seu martírio não foi pouco

Nascido num lar sombrio
Num grande abrigo inóspito
Numa casa sem sonhos
Sem sentido e sem propósito

No pai o furioso embriagado
Na mãe a doença sem cura
No rosto o penar estampado
Em tudo a eterna amargura

O abandono das amantes
A mesquinhez dos irmãos
As queixas suplicantes
O sangue nas suas mãos

O gesto enraivecido
A morte dos entes queridos
O canto ensandecido
A dor dos amores perdidos

O céu e a terra tremiam
Quando uma peça era executada
Seja a quinta sinfonia assombrosa
Ou a nona sinfonia cantada

Na delicadeza do piano
O vigor de suas sonatas
Num coral de anjos celestes
O esplendor de suas cantatas

Mas ainda teve de enfrentar a surdez
Agora como comporia?
Sem perceber a magia das notas
Que músico ele seria?

Porém não fraquejou
Prosseguiu como um bravo guerreiro
Bradou em meio ao silêncio
Cantou como um jovem cordeiro

O destino não o venceria
Nem o peso da fatalidade
O orgulho não cessaria
Seu ímpeto de vaidade

E que enorme mistério se esconde
Por trás de sua amada imortal?
Nas cartas o homem apaixonado
No testamento o triste final

Confissões de uma vida de culpa
Revolta de um estranho no ninho
Fracasso na custódia inquieta
Do rebelde e ingrato sobrinho

As partituras diminuíam bruscamente
Os concertos pareciam intermináveis
O cansaço já abalara o homem velho
Cujas forças pareciam incansáveis

A doença o torturava ainda mais
A dor insuportável noite e dia
Seu corpo putrefato ainda vivo
Moléstia, infecção e hemorragia

Chovia lá fora
Os raios rugiam
O clima furioso
As nuvens caíam

Seu torso caído no leito de morte
O rosto voltado para o leste
Suas últimas palavras soando em desafio:
“Comoedia finita est”

Agora ele repousa eternamente
Calado sob a terra fria
Mas sua música ainda vive e ainda respira
De fúria, de tristeza e de agonia

É incrível como passa os sentimentos
Como sua musicalidade toca fundo
Eternos são seus andamentos
Que falaram tão claro em seu universo mudo...


2 de agosto de 1996


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