segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

O Mar

O mar azul é eterno sob a abóbada celeste
É um canto bêbado da ressaca das vagas
Quando as ondas se confrontam em gotas alvoroçadas
E respingam num tilintar confuso, para estilhaçar pedras costeiras.
O mar é monotonia,
Pelo vaivém das marés sempre iguais
E pelo barulho que nunca cessa;
O mesmo chiado da água que rebenta
Igual se ouve no ruído das conchas,
Que em seu interior se escondem os mistérios do fundo do mar...
As correntes se formam em rios caudalosos
Sufocam a luz, afogam os faróis
Onde morre o Sol dourado
Apagando o próprio brilho para ceder a vez ao anoitecer
Onde resplandece num céu tombado pela escuridão
A Lua que te faz prateado!
E se pudesses falar, quantas histórias poderias contar!
De heróis que ousaram desbravar-te:
Os fenícios para o comércio, os gregos para a guerra,
Os vikings para as pilhagens, os lusos às descobertas.
Em embarcações frágeis ou imponentes, em tua fúria ou calmaria,
Nas tuas águas eternas e imensas, e salgadas para abrigar
Peixes vivazes, gigantes baleias, ferozes tubarões,
Horrendos crustáceos, torpes moluscos, e o colorido exuberante
Dos recifes de coral, das pérolas ricas dentro das ostras.
Os pequenos barcos dos pescadores navegam até sumir no infinito,
Os grandes navios flutuam numa paisagem pitoresca e tão bela,
Enquanto as gaivotas sobrevoam o ar umedecido de maresia.
Em tuas profundezas as plêiades vêm se banhar
Adentrando o reino intocado de Netuno
Que esbraveja e resmunga em seu trono de algas,
Debaixo de sua barba o tesouro escondido
De naufrágios e miragens, visões antigas do Oceano.
Chega Anfitrite conduzida pelos delfins,
Os golfinhos são seus servos e puxam seu carro de madrepérola.
Desfilam as Nereidas, tão lindas, montadas em cavalos-marinhos,
Rodeando o pobre gigante e apaixonado Tritão,
De rude feiúra quase monstruosa.
Mas lá em cima, longe dos mundos subterrâneos fantásticos,
E do poder do tridente do deus marinho,
Tudo permanece normal, continua sempre...
O homem aprendeu a respeitar-te e temer-te,
porque tu és, ó mar, espelho hermético e indecifrável de todo o universo!                  

31 de agosto de 1996



 

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