segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

A Fonte

            Todos, sem exceção,
            No teu reverso demoníaco
            No teu exagero shakespeariano
            Na tua confusa forma pecaminosa
            Na tua difusa porcelana espalhada pela noite
            Buscam a ti.


            Todos sem exceção buscam a ti
            No receio e na esperança adormecida dos ateus
            Na mitológica flecha de Cupido
            Nas cartas rasgadas pelo tempo e pelo rancor
            Nas fotos empoleiradas nos porões
            Nos divãs dos consultórios psiquiátricos
            Nos escritórios de fuga e de trabalho excessivo
            Na muda revolta dos que não o possuem
            Todos, mesmo que não saibam o teu nome.
           
            Todos te guardam inerte e entorpecido
            Na angústia do não se ver ninguém
            Nas braçadas do náufrago, na frustração do ditador,
            Na transmissão da vida, na automação da escrita,
            Na alma eterna, na cruz do Salvador!
            Todos te acendem velas como mariposas
            Em torno da luz que pode matá-los
            Todos frios em busca do fogo
            Que não raro ruge em afagos a queimá-los.

            Todos aceitam e negam e buscam
            E se encolhem como cães quando tudo se perde.
           
           

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