segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Pasto

            Eu vi mulas mastigando
A vida inteira eu vi à minha volta mulas mastigando
A vida toda eu amei mulas mastigando
A vida toda eu odiei mulas mastigando
A vida toda entre mulas mastigando

Então um dia eu quis experimentar outro capim
De colinas mais altas
E tentei subir
E martelaram meus cascos ao chão
E eu não quis mais o velho capim
E vomitei
E me recusei a ruminar o regurgitado
E as mulas perderam a paciência e deram coices
Até que se cansaram

Então eu fugi, de montanha em montanha
Até que alcancei o mais alto e distante monte
De lá vi coisas de que gostei e desgostei
Tentei voltar e não mais era possível
Então vi outros mastigando em montanhas ainda mais altas
Que me acusaram de ser apenas uma mula mastigando
E eu comecei a pular e a me apoiar sobre as patas traseiras
E me disseram que eu nunca poderia subir mais
Mas que um dia passou um homem por aí colhendo mulas
E as colocou para pastar acima das nuvens

E eu achei o máximo aquilo e gritei para os lá de baixo
Afinal, mulas são híbridos
Mestiços de jumento com cavalo
(Enquanto uns empacam, outros correm demasiadamente afobados...)
Mas não me ouviram
Ou ouviram e subiram tão pouco...
Ou vomitaram tanto que adoeceram e morreram...

E lá eu fiquei
Sempre sozinho
Esperando
Mastigando e chorando
Chorando e mastigando.




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